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Entrevista com Bia Figueiredo, a força da mulher no automobilismo

6 Minutos de leitura

  • Publicado: 08/03/2023
  • Atualizado: 08/03/2023 às 9:07
  • Por: Isabel Reis

Bia Figueiredo é um grande nome do automobilismo. A única piloto brasileira a correr na Fórmula Indy, onde ficou por quatro anos. Este ano, depois de uma temporada como mãe do Murilo e do Matteo, Bia decidiu encarar a Copa Truck. Agora em março ela estreia em caminhões na equipe ASG Motorsport, do piloto e empresário Roberval Andrade. Bia também é Presidente da Comissão Feminina da CBA.

Veja nesta entrevista o que este talento das pistas pensa sobre a mulher no automobilismo, sobre como é administrar a vida pessoal e correr disputando campeonatos. O vídeo tem a conversa completa.

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Conta para a gente como foi esse seu caminho, desde o kart, até chegar às 500 Milhas de Indianápolis?

Bia Figueiredo – Comecei no kart com oito anos de idade. Meus pais não têm um histórico no automobilismo, mas eu tive muita sorte de tê-los como apoiadores. As famílias brasileiras em geral apoiam mais os meninos do que as meninas. A primeira visita ao kartódromo foi quando eu tinha cinco anos e era uma época muito especial para o Brasil porque tinha o Ayrton na Fórmula 1, o Emerson na F Indy. Eu adorava acompanhar. Em resumo, foram nove anos no kart, muitos títulos, vice-campeã paulista, campeã brasileira, muitas vitórias, que me deram oportunidade de subir para a Fórmula Renault, aqui no Brasil, onde tive três vitórias. Fui a primeira mulher do mundo a vencer nessa categoria e fiz a Fórmula 3 Sul-americana no ano seguinte. Em 2007 não corri, mas comecei a me preparar para uma carreira internacional. Realizei vários testes na Europa e Estados Unidos, então, conseguindo uma boa chance na Indy Ligths. O meu primeiro ano lá foi incrível, sendo que eu briguei pelo título de cara. Foram oito pódios. O fato é que os bons resultados me levaram a realizar o meu sonho, que era correr na Fórmula Indy. Somente 25 brasileiros chegaram na Fórmula Indy e eu ter sido a única mulher foi incrível. Fiquei quatro anos lá.

Indy 500
Bia é a única brasileira a correr na Indy. (Foto: divulgação)
Você se sentiu discriminada em algum momento por ser mulher nesse mundo masculino do automobilismo?

Bia Figueiredo – Eu sempre tentei não pensar muito nisso. O meu foco era a vitória. Mesmo assim acabei tendo aulas com o piloto Renato Russo, para aprender a bater de volta quando os meninos tentavam me tirar da pista.

Como a sua posição na Comissão Feminina da CBA pode ajudar a desenvolver novas pilotos no Brasil?

Bia Figueiredo – Eu sempre me senti como um ameaça para outras mulheres que corriam no automobilismo. Quando corri na Fórmula Indy, eu participei de um grupo de empreendedoras que se ajudavam entre si. Aquilo foi um baque muito grande porque pensei que aqui nós somos tão poucas e que se a gente não se ajudar, não vai para frente. No ano passado, o Giovanni Guerra, presidente da CBA, me convidou para que eu fosse parte da comissão feminina de automobilismo. Eu falei que tinha acabado de ser mãe e que precisava ver como seria essa agenda, para fazer direito. Nas primeiras reuniões, que eram virtuais, tive acesso a muitos projetos legais que essas mulheres estão fazendo pelo mundo. Aí eu percebi que havia muita coisa para ser utilizada aqui no Brasil. Esperamos anunciar logo o projeto da Fórmula E, que é focado em estudantes.

Embora venha aumentando, o número de meninas em competições de kart, como o Brasileiro, ainda é reduzido. O que fazer para que cresça?

Bia Figueiredo – Essa é a minha grande questão e o que eu mais gostaria de fazer é aumentar a base do kartismo. Só como referência, no ano passado tivemos mais de 500 homens no Brasileiro de Kart e só umas oito ou nove meninas. Como se vai achar os talentos, quando se têm apenas 1% de meninas nesses campeonatos principais? Queremos construir escolinhas e fazer projetos que atraiam o público feminino, para que no médio prazo a gente tenha 100 meninas correndo no Brasileiro.

Neste ano, chegamos a 31 anos sem mulheres em um GP de F1. A última foi a Giovanna Amati, em 1992. Na sua opinião, FIA e F1 têm trabalhado de forma satisfatória para que este período seja encerrado?

Bia Figueiredo – Dentro da FIA Women há um consenso na comissão de mulheres de que elas podem competir com homens, pois muitas são vitoriosas no rali, na DTM e outras mais. A iniciativa da W Series é interessante porque incentiva meninas que estavam paradas, para que possam voltar. A própria Fórmula 1 anunciou um projeto chamado F1 Academy, que é um campeonato com carros de Fórmula 4 só com mulheres. As equipes de Fórmula 2 vão preparar esses carros, que devem correr junto com algumas provas da F1. Mas eu ainda acho que o foco deveria ser na base do kart, mesmo na Europa e nos Estados Unidos.

TCR
Bia correu em algumas etapas do TCR em 2022. (Foto: Duda Bairros)
Em 2023 você volta às competições, com a Copa Truck. Como tem sido a preparação e por qual motivo você escolheu essa volta nos caminhões?

Bia Figueiredo – Eu tive muitas conversas ao longo desses anos com várias equipes, mas em determinados períodos não fazia muito sentido porque eu estava muito bem na Fórmula Indy e depois na Stock Car. Depois eu tiver que parar para ser a mamãe do Murilo e do Matteo, dois meninos incríveis. No ano passado eu fiz algumas provas com a TCR Sul-americana no time do Nono, que foi muito bacana. E o Roberval me ligou do meio para o final do ano, comentando sobre a possibilidade da Truck. A gente foi trabalhando, a equipe é uma das melhores da Truck, e existe também um projeto muito legal junto com a A Voz Delas, da Mercedes-Benz, uma equipe com apoio de fábrica. Entendi que era uma oportunidade muito legal. O caminhão é muito diferente do carro. Mas estou muito empolgada e feliz para executar este ano.

Como é conciliar esse retorno com a maternidade e quais as mudanças que você sentiu / está sentindo na sua rotina de preparação?

Bia Figueiredo – Nós mulheres temos uma habilidade incrível de fazer muitas coisas ao mesmo tempo. E depois que eu fui mãe aprendi que preciso ser muito objetiva e organizada para as coisas saírem bem. Eu não conseguiria sem o apoio familiar, sem a ajuda de babás para quando eu viajo. Graças a isso eu consigo a paz e a tranquilidade para fazer a Truck e cuidar de outras coisas.

Qual mensagem você gostaria de passar para o leitor da Racing, que é um amante do automobilismo?

Bia Figueiredo – Homens e mulheres da Revista Racing (eu sou uma delas porque conheço a Racing desde que estava no kart), acho que o automobilismo nestes últimos anos cresceu muito e estamos vendo uma nova geração de amantes, com muito mais mulheres curtindo o automobilismo. Eu agradeço o apoio desses leitores e também à Revista Racing por estar tantos anos conosco, cobrindo a minha grande paixão.

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