<p><strong>Texto de Venício Zambeli publicado na edição 62 da Revista RACING (fevereiro de 2001). Adaptações por Rafael Ligeiro.</strong></p>
<p><img alt="Com sete vitórias em 1991, Senna alcançou o tricampeonato de Fórmula 1" src="/wp-content/uploads/uploads/senna1_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>
<p>A temporada de 1991 prometia ser uma das mais competitivas da história da Fórmula 1. Ayrton Senna, defendendo o título do ano anterior, levava o número um em seu McLaren Honda MP4/6. Seu maior rival, Alain Prost, permanecia na Ferrari e queria repetir a boa atuação de 1990, só que buscando algo mais que o vice-campeonato. Mas o verdadeiro concorrente de Senna naquele ano seria Nigel Mansell.</p>
<p>Depois de anunciar que abandonaria a carreira ao final da temporada de 1990, o piloto inglês foi convencido por Frank Williams a permanecer na F1 para ser campeão mundial. Para isso, o time forneceu um pacote técnico muito forte para Mansell. Deste conjunto, a maior dor de cabeça para Ayrton durante a temporada foi causada pelos motores Renault, que faziam frente aos Honda da McLaren.</p>
<p><img alt="Prost e Mansell eram fortes rivais, mas só o inglês foi páreo para Senna" height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/prost-mansell_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p><strong>Começo arrasador</strong></p>
<p>A temporada começou em Phoenix, nos Estados Unidos. Senna venceu fácil depois que as duas Williams abandonaram por problemas na nova caixa de câmbio semiautomático e, também, de uma desastrosa parada de box de Prost, com mais de 15 segundos de duração.</p>
<p><img alt="No circuito de rua de Phoenix, Senna estreou em 1991 com vitória" height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/senna_phoenix_620x467.jpg" style="opacity: 0.9; margin: 0px auto; display: block;" width="620" /></p>
<p>Depois, foi a vez do GP do Brasil em Interlagos. São Paulo era a cidade natal de Senna e o piloto nunca havia vencido nenhuma prova de F1 no Brasil. Nos treinos, o piloto da McLaren marcou o melhor tempo em uma de suas costumeiras apresentações, saindo nos instantes finais e marcando o tempo de pole position. Mas ele mesmo admitia que havia desvantagem de seu carro em relação aos Williams-Renault. Aliás, Senna sempre fez a diferença.</p>
<p>Na corrida, Ayrton liderava à frente de Mansell, até o inglês começar a enfrentar problemas na caixa de câmbio. Por sinal, foi o mesmo componente que tirou o Leão da prova poucas voltas mais tarde, quando começava a tirar a diferença para seu concorrente. Riccardo Patrese, com Williams, assumiu o segundo posto e partiu para cima de Senna, que fazia de tudo para se segurar na pista, já sem o bom funcionamento das marchas.</p>
<p><img alt="Em Interlagos, Senna superou problema mecânico e chuva para vencer" height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/senna_interlagos_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p>Mas foi aí que começou a chover, restando poucas voltas para o final. Senna mostrou toda a sua habilidade nestas condições e conseguiu ser rápido para se manter à frente de Patrese, mesmo estando apenas com a sexta marcha em seu McLaren. Graças a um sistema de comando de potência do motor Honda, era possível para o piloto fazer as curvas mais fechadas, mesmo com dificuldades, utilizando apenas aquela marcha.</p>
<p>Contudo, o esforço físico era muito grande para manter o carro no traçado, molhado. Senna começou a gesticular com as mãos, apontando o céu carregado de nuvens, tentando dizer ao diretor de prova que estava impossível de continuar na pista devido à chuva. Mas isso não sensibilizou aos dirigentes e o brasileiro teve de ir assim até o fim, conseguindo uma das vitórias mais fantásticas de sua carreira. Enfim, vencia no Brasil. E, por isso, deixou transbordar toda aquela emoção após a bandeirada, sob os gritos dos torcedores brasileiros.</p>
<p>Ayrton terminou a prova esgotado fisicamente, não conseguindo sequer levantar direito o troféu da vitória.</p>
<p>Esta sua primeira vitória no Grande Prêmio do Brasil e a corrida do Japão em 1998, quando do primeiro título, foram sempre destacadas por Senna como especiais, tamanha sua felicidade por conquista-las.</p>
<p><img alt="Esgotado fisicamente, Senna mal conseguir levantar troféu no pódio" height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/senna_podio_620x467.jpg" style="opacity: 0.9; margin: 0px auto; display: block;" width="620" /></p>
<p><strong>Abrindo caminho na Europa</strong></p>
<p>O circo partiu para a Europa, onde seria disputado o GP de San Marino, em Ímola. Por lá, a decepção foi total à Ferrari. Ainda na volta de apresentação, Prost rodou e não conseguiu voltar à pista. Naquele instante chovia muito e o piso estava molhado – mais isso não justifica uma rodada à essa altura, principalmente em se tratando até então de outro tricampeão.</p>
<p>Jean Alesi, o outro piloto da Ferrari, saiu também do traçado no início da corrida e ficou preso na caixa de brita.</p>
<p>Outro que ficou fora no começo foi Mansell. Mais uma vez ele teve problemas com a caixa de câmbio e ainda foi tocado por trás na primeira volta. Era a terceira prova do ano e o inglês ainda não havia pontuado, enquanto Senna ampliava sua distância com mais uma vitória. E assim foi novamente, na etapa seguinte, em Mônaco. O brasileiro venceu sua quarta corrida no campeonato – com um aproveitamento de 100%. Segundo colocado, Mansell marcou seus primeiros pontos na temporada.</p>
<p>Na corrida seguinte, no Canadá, Nigel foi mais uma vez traído pelo câmbio. Desta vez, na última volta, enquanto liderava e não tinha mais a presença de Senna na corrida, que havia abandonado com problemas na ignição.</p>
<p>Quem se deu bem foi Nelson Piquet, que venceu com seu Benetton-Ford. Foi a sétima vitória seguida do Brasil: cinco em 1991 e outras duas, com Piquet, nas provas de encerramento do campeonato de 1990.</p>
<p><img alt="No Canadá, Piquet conquistou a última de suas 23 vitórias na categoria" src="/wp-content/uploads/uploads/piquet-canada_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>
<p><strong>Susto no México e queda de rendimento</strong></p>
<p>No México, Ayrton Senna sofreu um grave acidente. Na curva Peraltada, ele errou ao fazer a curva em sexta marcha – o normal era fazer em quinta – e acabou saindo da pista. Quando bateu na barreira de pneus, seu McLaren capotou. O monoposto parou de cabeça para baixo, mas Senna saiu ileso.</p>
<p><img alt="Acidente no México foi um dos mais graves na carreira do tricampeão" src="/wp-content/uploads/uploads/senna_mexico_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>
<p>Na corrida, as Williams mostravam seu domínio com Riccardo Patrese e Nigel Mansell, respectivamente em primeiro e segundo lugares. Senna foi o terceiro.</p>
<p>E a reação de Mansell continuou nas três corridas seguintes: vitórias na França, Inglaterra e Alemanha. Enquanto isso, Senna pontuou apenas na França, com um terceiro lugar. Nos GPs inglês e alemão, o paulista abandonou pelo mesmo motivo: falta de combustível.</p>
<p><img alt="Em Silverstone, Senna pegou carona com Mansell após pane-seca" height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/mansell-senna-ing_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
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<p><strong>McLaren reage, mas Williams segue forte</strong></p>
<p>Na Hungria, a McLaren tratou de reagir, colocando o câmbio semi-automático em seus modelos. O resultado foi a vitória de Senna, algo que se repetiu na Bélgica. Na etapa seguinte, em Spa-Francorchamps, na Bélgica, Michael Schumacher estreou na Fórmula 1.</p>
<p>O alemão, que marcou o sétimo melhor tempo nos treinos, não passou da segunda curva na corrida, com problemas no motor Ford de seu Jordan. Na outra corrida, já pela Benetton, Schumacher chegou em quinto lugar, à frente de seu companheiro de equipe, o brasileiro Nelson Piquet – sexto colocado em sua prova de número 200 na Fórmula 1.</p>
<p><img alt="Schumacher estreou na F1 em Spa com surpreendente sétimo posto no grid" src="/wp-content/uploads/uploads/schumacher-belgica_620x467.jpg" style="opacity: 0.9; margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>
<p>Após largar na pole position em Spa, Senna se manteve na frente durante as primeiras voltas, mas Mansell, logo atrás, ultrapassou o brasileiro, rumo à vitória.</p>
<p>Em Portugal, Mansell viu complicar a sua conquista. Depois de largar em primeiro e liderar a primeira parte da prova, na parada de boxes uma das rodas traseiras foi mal colocada e, na saída do pit, soltou-se. Os mecânicos trocaram a roda fora do pit, o que gerou a desclassificação de Mansell. Patrese venceu, seguido por Senna.</p>
<p><img alt="Patrese comemora sua segunda vitória no ano, em Portugal" height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/patrese-portugal_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p><strong>Cenário novo e título</strong></p>
<p>O novo cenário espanhol da Fórmula 1 era em Barcelona. Foi lá que Alessandro Zanardi fez sua estreia, pela Jordan, no lugar de Roberto Moreno. Mansell venceu novamente e entrou, mais uma vez, na disputa pelo título. Ele ultrapassou Senna em uma das cenas mais bonitas da F1, com os dois competidores lado a lado, há centímetros um do outro.</p>
<p><img alt="Na estreia de Barcelona, Mansell e Senna protagonizaram uma bela disputa" src="/wp-content/uploads/uploads/mansell-senna_620x467.jpg" style="opacity: 0.9; margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>
<p>Com a chuva, Senna rodou e terminou em quinto.</p>
<p>O brasileiro e o inglês partiram para a penúltima prova de 1991, no Japão. Após largar bem, Senna vinha sofrendo pressão de Mansell, que precisava vencer para se manter na briga. Para Senna, bastava terminar à frente do rival.</p>
<p>Mansell acabou rodando e Senna, com o tri garantido, ainda abriu mão da vitória, entregando-a nos metros finais a Gerhard Berger.</p>
<p>A temporada se encerrou na Austrália. Com muita chuva, vitória de Senna, com Mansell em segundo lugar – o retrato fiel do campeonato.</p>
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