<p><img alt="Duas fases: Ingo na F1 (1976) e celebrando o 12º título de Stock (2002)" height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/ingof1_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p>De uns tempos para cá, a Alemanha virou sinônimo de sofrimento ao Brasil em duas preferências nacionais: o futebol e a Fórmula 1. Embora a seleção de Neymar, Gabriel Jesus e cia. tenha conquistado o inédito ouro olímpico sobre a rival europeia, nos Jogos do Rio de Janeiro, no ano passado, não podemos nos esquecer da humilhante derrota por sete a um na semifinal da Copa do Mundo de 2014. Já na F1, os alemães ocupam uma posição de destaque que, até o início dos anos 90, nos pertencia. Em apenas 23 temporadas, 12 títulos e três campeões. O maior deles, Michael Schumacher, foi uma pedra no sapato de Roberto Moreno, Nelson Piquet, Ayrton Senna e Rubens Barrichello. Cada um à sua maneira.</p>
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<a href="http://www.motorpress.com.br/racing/noticias/ultimas-noticias/memoria-racing-ingo-12-vezes-campeao" target="_blank"><span style="color:#FF0000;"><strong>Memória RACING: Ingo, 12 vezes campeão</strong></span></a></p>
<p>Mas há um "Alemão" (made in Brazil, na verdade) que não nos causa temor. Muito pelo contrário: trata-se de um orgulho do esporte a motor nacional. Refiro-me a Ingo Ott Hoffmann.</p>
<p>Aos 64 anos – completados exatamente hoje, Ingo é um sinônimo de êxito no automobilismo. Na Stock Car foram 60 pole positions, 77 vitórias e 158 pódios em 332 corridas. Nada menos que 12 títulos conquistados em 31 temporadas no certame. Arrematou ainda o bicampeonato nacional da Divisão 3 – Classe A (1973 e 1974), a Fórmula Fiat Uno (1993), as Mil Milhas Brasileiras (2003), entre várias participações de destaque em outros campeonatos.</p>
<p><img alt="Ingo em ação com sua Brasília, nos anos 70, pela Divisão 3" src="/wp-content/uploads/uploads/ingo-2_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>
<p>De fato, bem além das conquistas, duas características em Ingo sempre chamaram a minha atenção. Primeira: ele é um exemplo de que não é necessário vencer corridas e temporadas na Fórmula 1 para se construir uma carreira brilhante no automobilismo. Trata-se de um exemplo à garotada que ainda dá as primeiras aceleradas no kart e pensa apenas em F1.</p>
<p>Chegar ao campeonato da FIA é o ápice na carreira de qualquer piloto; mas o caminho para alcançá-lo também é o mais longo e árduo que há no esporte a motor. São apenas 20 carros para centenas de pretendentes em disputas por cockpit nas quais, inúmeras vezes, talento não é o único critério de seleção. É preciso influência nos bastidores. Estar no lugar certo, na hora certa. E, sobretudo, ter patrocínio.</p>
<p>Já a segunda característica que admiro em Ingo é o fato de que, mesmo após tantas conquistas, jamais deixou a naturalidade de lado. Não é daquele tipo que sorri facilmente, tampouco que dá piscadelas às câmeras de televisão ao final de uma entrevista. É um sujeito sério, simples e desprovido de qualquer estrelismo, características que carrega desde o início de carreira. Não possui aquele invólucro subjetivo que parece distanciar grandes ícones de seus fãs, em uma química capaz de conceder a impressão de que os ídolos, tão longes, pareçam sujeitos perfeitos, intocáveis.<span style="color: rgb(255, 255, 255);">.</span></p>
<p><img alt="Hoffmann e seu "Opalão" em 1993: heptacampeão na Stock" src="/wp-content/uploads/uploads/ingo-4_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>
<p>O próprio Alemão já disse que houve até quem tenha tentado fazer com que ele investisse mais na imagem pessoal. Mas, felizmente, Ingo jamais aceitou isso. Tivesse cedido ao “conselho”, sem dúvidas, teria mais espaço na mídia, estrelaria mais comerciais, venderia mais bonés, miniaturas… Estaria até mais rico! No entanto ficaria sujeito a passar pela catastrófica metamorfose pessoal que inúmeros profissionais ao volante são submetidos na busca para agradar a gregos e troianos.</p>
<p>Ainda mais impressionante é o fato de Ingo ter esbanjado uma virtude que nem sempre é presente em grandes pilotos, inclusive grandes campeões. Frio e experiente, ele sempre mostrou-se capaz de uma leitura precisa de uma corrida e um campeonato. Daqueles que conhece como poucos a hora certa para partir à pista com o regulamento em mente – até mesmo quando a situação não parecia propícia a tal atitude.</p>
<p><img alt="Ingo e o inconfundível número 17: parceria vitoriosa na Stock" height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/ingo3_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p>Lembro muito bem da temporada 2002 da Stock, quando tudo parecia indicar ao tetracampeonato de Chico Serra. “Salvo uma mudança absolutamente imprevisível, tenho tudo para ser campeão da temporada”, bradou Hoffmann, quatro corridas antes do término da temporada, à <span style="color:#FF0000;"><strong>Revista RACING</strong></span> (edição 102). Era o vice-líder, 16 pontos atrás do adversário. “Já tenho minha estratégia traçada: vou correr de olho nele (Serra). Se nessas quatro provas restantes eu chegar uma mísera posição adiante, tá liquidada a fatura”.</p>
<p>Dito e feito. Nas três corridas seguintes, Ingo tomou a liderança do campeonato com uma vitória (Curitiba) e um segundo lugar (Londrina). Na etapa de encerramento da temporada, em Interlagos, mesmo com a vitória de Chico, bastou um sexto lugar para o Alemão garantir o 12º caneco na categoria.</p>
<p>Por essas e outras, Ingo Hoffmann merece a nossa reverência.</p>
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