Card image
Capacete de ouro
Ingo Oto Hoffmann recebe o Card Oficial do Capacete de Ouro

8 Minutos de leitura

  • Publicado: 27/09/2021
  • Atualizado: 27/09/2021 às 17:31
  • Por: Isabel Reis

 

Sim, o seu nome é Ingo Oto Hoffmann, um dos maiores pilotos brasileiros de todos os tempos, que recebe neste momento o Card Oficial do Capacete de Ouro. Essa é uma honraria destinada a poucos heróis das pistas, como reconhecimento pelo trabalho e talento desses ídolos. No evento do Capacete de Ouro deste ano, Ingo e os demais pilotos premiados receberão o Card do Capacete de Ouro definitivo, em formato de placa, e entrarão para a galeria histórica de forma virtual nas plataformas da Revista RACING, pelo site www.racingonline.com.br, ou pelo Instagram e Facebook.

Aproveitando a ocasião, bati um papo com Ingo Hoffmann sobre os seus 36 anos de carreira como piloto: o que mais marcou, o que ele prefere esquecer, se faria algo diferente. Mas a sua aposentadoria só aconteceu nas pistas. Ele continua trabalhando bastante e faz também um lindo trabalho com o seu Instituto Ingo Hoffmann, que cuida de crianças com câncer. Veja agora a entrevista escrita e acompanhe também pelo vídeo abaixo.

Você conhece o canal da RACING no YouTube? Clique e se inscreva!
Ingo, conta para nós alguns detalhes da sua vida. O que te levou a ser piloto e quando isso começou?

Acho que já nasci com esse dom, com esse anseio, de um dia poder correr de carro. Eu nunca fui influenciado pela mídia. Hoje em dia, muitos garotos decidem ser pilotos porque viram o Emerson, o Rubinho, o Felipe, correrem. Acabaram se influenciando. No meu caso foi diferente: eu nasci em 1953, tenho 68 anos. Com 10, 12 anos, eu já era apaixonado por carro de corrida. Mas não existia nada, nem uma revista, que falasse sobre o assunto. Eu tentei estrear no kart, com meus 14, 15 anos, mas meus pais não aprovaram. Tive que esperar completar 18 anos e tirar a carteira de motorista. Fiz a minha primeira corrida com 19 anos e meio. Comparando com os dias de hoje, comecei muito velho. Atualmente, a garotada com 10 anos já está indo para a pista. Aí a coisa deslanchou.

Quanto tempo você se dedicou às pistas como piloto?

Iniciei em 1972 com o Fuscão 1500. Fiz seis corridas com esse carrinho, que era o mesmo que eu usava para rodar por aí, ir para a faculdade etc. Aí o motor dele fundiu! Mas eu já tinha pegado gosto pela coisa! Vi que era uma aptidão, um dom. Meu pai conseguiu um patrocínio e não parei mais, fui até 2008, quando me aposentei.

Quantas corridas e quantos campeonatos você já venceu ao longo da sua carreira?

Eu tenho uma ideia aproximada. Na Stock Car, se não me falha a memória, são 336 participações. Estendendo isso para toda a minha carreira, talvez tenha até umas 700 corridas. Mas estou chutando! No caso dos campeonatos brasileiros e internacionais, são 17: foram 12 da Stock Car, dois da Divisão 3 (anos 73 e 74), um Campeonato Brasileiro de Fiat Uno, um Campeonato Brasileiro de Rally Cross Country, e um campeonato na Argentina, em 1978, quando a Fórmula 2 Europeia veio correr na América do Sul. Os regionais são muitos, mas esses eu nunca contei.

Ingo Hoffmann, Stock Car, 1979 – Foto Arquivo pessoal
Quem tem mais títulos: você ou o Paulo Gomes? Ele sempre brinca que tem mais do que você!

O Paulão, o Chico Serra e eu temos um contrato com a Universal Automotive, que criou uma ação muito legal chamada de “Lendas da Stock Car”. Então, nós três fazemos muitas ações juntos e sempre alguém pergunta quem ganhou mais campeonatos. Sabe que até poucos dias atrás eu não contava esse da Fórmula 2 Europeia. Aí conversando com o Chico (Serra) eu me lembrei. E ele falou que tinha mesmo que considerar. Portanto, somando esse, chego a 17 títulos. O Paulão brinca dizendo que foi campeão mundial da Stock Car, porque venceu em duas etapas feitas no Estoril, em Portugal (risos!). Hoje somos muito amigos, mas teve época em que a gente se matava nas pistas.

Fale quais são os três momentos mais importantes da sua carreira?

Com o Fuscão, em 1972, em Interlagos tive um dos momentos mais marcantes: a minha estreia no automobilismo. Era ali que eu decidiria se ia continuar ou não. Eu precisava correr para saber se levava jeito. Se não tentasse, ficaria frustrado para o resto da vida. Foi um sonho se realizando: eu no autódromo, o treino, o ambiente de corrida. Inesquecível!

1972, com o Fuscão de número 22: um dos momentos mais marcantes da carreira de Ingo

Vencer o primeiro campeonato de Stock Car, em 1980. Eu tinha feito quatro anos na Europa (76, 77, 78 e 79). Voltei para o Brasil, depois de ter estado no auge do automobilismo internacional, estreando na Stock Car com o Opala em 1979. Nesse primeiro ano, estava sempre em último, não era nada competitivo! Um choque de realidade muito grande. Mas em 1980 eu ganhei o campeonato. Então percebi que ali tinha um caminho, o que me deu tranquilidade emocional, espiritual, para tentar uma carreira aqui no Brasil e viver profissionalmente do esporte.

O último ano na Stock, em 2008, foi o terceiro momento marcante. Eu sou e continuo sendo muito competitivo. Eu tinha uma preocupação de finalizar bem a minha carreira, de terminar no topo. Naquele ano, já havia decidido terminar a carreira antes de iniciar a temporada. Só estava esperando um momento importante, um pódio, para fazer esse anúncio. Aí eu fiz a pole position na prova de abertura. Como estava sendo transmitida ao vivo, falei com um repórter da Globo que eu daria a notícia para todo o púbico de que aquela seria a minha última temporada. Que ia me aposentar. Aí aconteceu que, na última corrida de 2008, terminei no pódio. Foi muito marcante porque consegui sair por cima! Eu sai porque quis, no momento que eu quis, e isso me dá muita satisfação.

Achei que você fosse colocar a sua participação na Fórmula 1 como um dos momentos mais importantes. Não foi?

Muito ao contrário. Eu nem lembro! Sou muito perfeccionista, por isso nem considero que corri na Fórmula 1. Participei de pouquíssimas provas, não fiz o que gostaria de ter feito. Larguei efetivamente em três Grandes Prêmios. Só valeu como experiência, pois era muito jovem. A equipe (Copersucar) também não estava preparada. Mas eu era um garotão cheio de sonhos, pensando em ser um dia campeão mundial. Quando não deu certo, eu entrei numa “fossa”. Não sabia o que fazer quando voltasse para o Brasil, pois sempre dependi financeiramente das corridas. E aqui não era essa “beleza” que é hoje, com uma Stock Car desse nível. Sobre esse assunto, o que posso colocar no meu currículo é: guiei um Fórmula 1 e ponto! Mais nada!

Fórmula 1, com a Copersucar: valeu como uma experiência que Ingo prefere esquecer!
Como anda a sua vida nos dias de hoje? O que você está fazendo?

Eu tenho um contrato com uma empresa de condicionador de metais, a GRAFFENO, e faço o marketing deles. Tenho um contrato com a Universal Automotive, das “Lendas da Stock Car”, o que me toma um tempo pois visito vários clientes. Agora também voltei para a BMW, onde eu fiquei de 1998 a 2012. Implantei um programa no Brasil que eles têm a nível internacional que é o BMW Drive Training, um curso para saber dirigir corretamente nas ruas. Retomamos esse programa, que além do curso de direção, tem um também de performance, tipo um Track Day, no qual os clientes da BMW vão com os seus carros. A gente orienta, dá a parte teórica, está lá para assessorar quem queira pilotar em autódromo.

Campeões Stock Car
Ingo junto com os campeões Chico Serra e Paulão Gomes, em ação promocional do Grupo Universal Automotive – Foto: Bruno Terena / RF1 / divulgação
Como está o Instituto Ingo Hoffmann? Continua voltado para ajudar crianças com câncer?

Sim, continua com o mesmo intuito. Me toma um pouco de tempo para correr atrás o dinheiro para manter a instituição funcionando. Fica em Campinas (SP), junto a um hospital chamado Centro Infantil Boldrini, em uma área que eles nos cederam. Fizemos até 30 chalés, onde abrigamos 30 famílias com menor poder aquisitivo, com filho em tratamento, e que não teriam como se manter. Já estamos indo para 14 anos de Instituto. Agora temos uma outra ação que pode ajudar bastante e pedimos para o leitor da Racing que participe. São leilões de itens históricos e de raridades da Stock Car, como um troféu idêntico ao meu, uma bandeira quadriculada com autógrafos, um macacão histórico, meu capacete, e mais coisas. Chico Serra e Paulo Gomes também participam dessa iniciativa, com vários itens fornecidos para o leilão. O endereço para participar é: foracause.com.br/stockcar.

O que você acha do automobilismo atual?

Tudo mudou muito. Houve uma evolução enorme. Sempre me pedem para fazer um comparativo entre a Stock do início, com o Opala, e a de hoje. Não dá para comparar. Além das questões tecnológicas, a categoria está muito bem estruturada e profissional, com pilotos de alto nível e extremamente competitiva. Na minha opinião é a categoria mais competitiva do mundo e não só do Brasil. Ela dá a oportunidade para muitos pilotos jovens permanecerem no país, vivendo profissionalmente disso. Em termos de carros de turismo, o automobilismo brasileiro está bem servido. O que a gente não tem são as categorias de Monopostos, de Fórmulas. Mas escutei uma conversa de que devem trazer a Fórmula 4 para o Brasil.

Se você pudesse mudar algo na sua vida profissional, o que seria?

Nada! Não mudaria nada! Eu sempre procuro pensar no amanhã e para a frente. Mesmo as experiências negativas que passei, muitas vezes, me ensinaram mais do que as positivas. Por isso não mudaria nada, nada, mesmo!

Bruno Baptista, conheça a revelação da Stock Car 2021

Carlos Col, grande promotor das pistas, dá uma aula sobre automobilismo

O que quer Fernando Julianelli, o novo CEO da Stock Car

Gastão Fráguas, campeão mundial, o novo homem do kart sul-americano

Giovanni Guerra, presidente da CBA, acelera a sua nova gestão

 

 

 

Deixe seu Comentário

Comentários