Está confirmado que Brasil, Argentina, Chile e Uruguai serão os países que receberão o TCR Sul-Americano em 2021. Trata-se de uma importante categoria internacional, que atua em 36 países, com competições de Sprint e Endurance. Para saber detalhes dessa estreia com supercarros multimarcas, entrevistei o empresário Maurício Slaviero, promotor das três provas que acontecerão no Brasil.
Maurício esteve à frente da Stock Car, desde 2013. Em 2016, ele deixou a categoria e também o país, mas se manteve no automobilismo. Desde 2017, Maurício integra a Electric and New Energy Championships Commission, comissão da FIA que gere competições de carros elétricos e de outras fontes alternativas de combustível. Agora, no começo de junho, o dirigente anunciou o lançamento do TCR Sul-Americano para 2021. Decisão corajosa, frente a uma crise sem precedentes causada pela pandemia. Veja quais são os seus planos.
O que é o TCR e como irá funcionar na América do Sul? Qual a data de lançamento?
Maurício Slaviero – O TCR é hoje a principal categoria de turismo do mundo. São mais de 30 campeonatos, em quase todos os continentes. Só estavam faltando a América do Sul e a África. Então, começaremos com a América do Sul no ano que vem.
O campeonato está mesmo confirmado? Já existem equipes inscritas?
Maurício Slaviero – O campeonato irá mesmo acontecer e a ideia é que comece em abril de 2021 As inscrições vão até o final de julho e, até o final de agosto deste ano, vamos selecionar as equipes. Temos recebido muitos pedidos e acho que a procura deverá ser maior que as 24 vagas destinadas para o grid. Devemos escolher e deixar algumas equipes de fora, visando aquelas que deverão trazer maior benefício ao campeonato.
Já estão confirmados os autódromos onde o TCR irá acontecer?
Maurício Slaviero – Ainda não estão confirmados. Falando em Brasil, a ideia é fazer uma etapa em Interlagos. Se o autódromo de Curitiba estiver funcionando, aberto e viável, queremos fazer uma etapa lá. Fica mais perto para as equipes da Argentina, Chile e Uruguai. A terceira etapa pode acontecer no Rio Grande do Sul ou novamente em São Paulo, talvez no Velo Città. Eventualmente pode acontecer até em Minas Gerais, no autódromo novo que está sendo construído lá.
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Qual é o seu papel como promotor da categoria no Brasil, e qual é o papel do Marcello Lotti, presidente do WSC Group?
Maurício Slaviero – Eu serei o promotor e organizador das três etapas do Brasil. O Felipe McGough é o promotor de todo o campeonato do TCR Sul-Americano. Eu fiz essa parceria com ele para organizar e promover as três etapas aqui. O Marcelo Lotti é o presidente da WSC, que é a proprietária da marca, do conceito e do regulamento do TCR. Foi com o WSC que o Felipe assinou o contrato de licenciamento para organizar o campeonato na América do Sul. Esse procedimento é feito em todos os outros campeonatos do TCR pelo mundo. Por exemplo, o Campeonato Mundial é um contrato de licenciamento feito com o WTCR. O Campeonato Europeu é com uma empresa de Portugal. O campeonato norte-americano são dois. O de Endurance é promovido por intermédio de um contrato de licenciamento entre a IMSA e a WSC. E o Campeonato de Sprint é um acordo da SRO com a WSC. Cada lugar do mundo tem um contrato de licenciamento diferente.
Na coletiva virtual feita no começo de junho foram apresentados alguns pilotos, com passagem pelo WTCR. Eles continuam? Do Brasil havia Augusto Farfus. Ele vai participar?
Maurício Slaviero – Esses pilotos correm no WTCR. Os argentinos Esteban Guerrieri e Neston “Bebu” Girolami continuam esse ano no WTCR pela equipe Honda. O Augusto Farfus não vai correr pelo TCR esta temporada. Ele continua nos projetos de GT e com algo a mais que talvez ele anuncie, mas que eu não posso precisar.
Existe espaço para mais uma categoria de turismo aqui na América do Sul, onde a Stock Car e o Super TC2000 já estão consolidados e com envolvimento de marcas importantes?
Maurício Slaviero – Acredito que sim. Em primeiro lugar porque será o único campeonato Sul-Americano com corridas no Brasil, Argentina, Chile e Uruguai. Vamos abranger um mercado totalmente diferente, visando empresas que têm foco em toda a região e não só em um país. A nossa intenção é ter datas que não conflitem com o Super TC 2000 na Argentina ou com a Stock Car no Brasil. Desta forma, as equipes e pilotos podem correr nesses campeonatos também. O TCR é muito distinto desses outros dois, até pelo conceito do carro, que tem produção normal, tirado da linha de montagem e adaptado para corridas. Ele usa exatamente o mesmo monobloco do carro de rua e tem um motor real, só que preparado pelas marcas. São 12, 13 montadoras homologadas com mais de 15 modelos.
Já existe a confirmação oficial de apoio de alguma marca de automóveis para esse campeonato Sul-Americano?
Maurício Slaviero – O TCR foi criado para ser um campeonato de Costumer Racing. Competição focada nas equipes e pilotos e não diretamente focada nas montadoras. Essa negociação com as marcas eventualmente acontece por intermédio das próprias equipes. As equipes que tem um envolvimento, que tem o interesse, que tem o relacionamento com as montadoras, vão acabar tendo apoio, fechando alguns acordos. O que a gente faz é dar todo o suporte. Cada equipe e piloto vão comprar o carro que desejam da marca que querem representar.
Como se resolve a questão dos carros, uma vez que boa parte desses modelos (e marcas) não é comercializada no Brasil?
Maurício Slaviero – No Brasil, a Volkswagen e a Honda produzem os modelos que correm no TCR. Outras marcas não produzem, mas importam, como Subaru e Hyundai. Existem várias montadoras muito interessadas, negociando com equipes e pilotos. Mas nada foi fechado oficialmente até porque é um processo que começou agora e que tem um tempo de negociação. De qualquer forma, o TCR não foi criado para marcas do Brasil ou Argentina. Ele foi feito com o conceito de carros totalmente diferentes desenvolvidos por cada montadora. Mas todos com um balanço de performance realmente muito efetivo, muito bom. O regulamento traz os custos dos carros lá para baixo. Isso faz que os orçamentos das temporadas sejam pequenos. São carros que têm, por exemplo, um motor que vai correr duas temporadas sem nenhuma revisão ou manutenção. Independentemente das montadoras do Brasil estarem interessadas ou não, o campeonato vai acontecer da mesma forma. Se eventualmente alguma delas quiser se envolver, ótimo, melhor ainda.
Seria possível a produção desses carros na América do Sul? Porque vai encarecer ter que comprá-los na Europa.
Maurício Slaviero – Se alguma montadora quiser desenvolver um carro para o TCR, não tem problema nenhum. A marca pode conversar com a WSC, fazer um contrato e desenvolver um carro que será posteriormente homologado pela WSC. Vou dar um exemplo: se a Chevrolet ou a Fiat do Brasil quiserem desenvolver um carro para o TCR eles podem. Ou a Toyota da Argentina. Nesse caso, as marcas desenvolverão o carro dentro do regulamento que existe para o TCR, que foi estipulado pela WSC, farão um contrato e vão homologar esses carros para poderem correr. E não só no Brasil, mas podem competir no mundo inteiro. Ou seja: se a Chevrolet ou a Fiat do Brasil desenvolverem esses carros, poderão vendê-los para o mundo todo. Pode até ser um mercado muito interessante para novas montadoras, que é o que acontece hoje com as marcas que produzem esses modelos. Elas vendem os carros e têm receita com isso.
Um dos apelos é que o TCR tem preços acessíveis. O que seria isso em termos de valor investido em cada prova, por exemplo?
Maurício Slaviero – Com relação aos orçamentos, difícil saber exatamente o quando pode custar um campeonato na América do Sul. São realidades um pouco distintas. O que posso dizer é que um campeonato europeu de TCR que tenha a mesma quantidade de etapas do Brasil, com o custo de locomoção já incluído, custa em média de 180 mil a 200 mil Euros a temporada. A gente estima que, no Brasil, o campeonato deve ficar na faixa de 170 mil a 200 mil Euros, dependendo de cada equipe. Até porque os custos são em Reais. Por isso acreditamos que será mais barato até que o europeu.
O fato de as equipes terem que se locomover para outros países não seria um fator de acréscimo de custos?
Maurício Slaviero – A logística é um custo que a equipe vai ter, mas estamos considerando isso dentro do budget. As equipes, os pilotos, os patrocinadores e as montadoras vão poder explorar a região inteira da América do Sul e não apenas um país só. Uma montadora que esteja presente em todos esses países vai poder eventualmente fazer um acordo. Nesse caso, o orçamento para investir na categoria pode ser dividido entre quatro países. Muito mais fácil e barato do que utilizar o orçamento de uma montadora para só um campeonato brasileiro ou para um campeonato argentino. Esse conceito faz muito sentido e isso vale não só para as montadoras, mas para outros patrocinadores. Uma empresa que esteja atuando nesses mercados, pode dividir o orçamento de marketing entre esses quatro países, ficando muito mais barato para todos. É isso que queremos implantar na América do Sul.
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