Quando fui na Anfavea, pela primeira vez, me encontrei com Luiz Bartolomais e Douglas Mendonça, editores da revista Quatro Rodas. Nesse dia, recebi a primeira proposta para trabalhar na conceituada revista (não aceitei, mas acabaria me integrando ao time algum tempo depois). Era coletiva de imprensa e lembro do grande poderoso da indústria, André Beer, vice-presidente da GM, que terminava a sua segunda gestão à frente da entidade (1983-1986 e 1986-1989). André foi um dos executivos de maior carisma deste país, mas sempre muito acessível, cumprimentando pessoalmente cada jornalista.
Em 23 de abril, quando participei da posse de Luiz Carlos Moraes, 19º presidente da entidade, percebi quanta água havia passado por debaixo da ponte desse setor poderoso e fascinante. Ele próprio informou que, no crescimento do PIB dos últimos dois anos, a indústria automotiva respondeu por 25% desse aumento, acima de outros setores.
Luiz Carlos Moraes continua acumulando o cargo de Diretor de Comunicação Corporativa e Relações Institucionais da Mercedes-Benz do Brasil. Com grande experiência, iniciou no setor automotivo em 1978 e já era vice-presidente da Anfavea desde 2012. O 1º vice-presidente da entidade agora é Fabricio Biondo, que também acumula as funções de vice-presidente de comunicação, relações externas e digital da América Latina do Grupo PSA (Peugeot-Citroën).
Antonio Megale, que foi presidente da Anfavea de 2016 a 2019, deixa uma marca forte na sua gestão: o Programa Rota 2030 literalmente dá um rumo para a indústria de veículos automotores do Brasil e para todas as demais áreas envolvidas, como autopeças, logística, rede de concessionárias, e a própria sociedade com várias medidas voltadas à segurança e redução de acidentes. O executivo entregou o seu mandato com uma previsão de crescimento de 14,4% para este ano.
Megale explicou em seu discurso: “Durante o meu período como presidente da Anfavea, o Brasil passou por três governos diferentes. Imagine que quando assumi, em 2016, o mercado era de 2 milhões de veículos, uma queda brutal, comparada com os 3,8 milhões de 2012”.
Em seu discurso, Luiz Carlos Moraes ressaltou: “Esse será o maior desafio profissional da minha carreira, pois a indústria mundial está passando por uma revolução. O setor se transformará totalmente em dez anos ou até em menos tempo. Existem novas exigências para tudo, como mobilidade, eficiência energética, conectividade. Estamos rompendo barreiras tecnológicas e comportamentais”.
Segundo Moraes, há uma recuperação moderada da economia, com crescimento do PIB de 1% em 2017 e de 1,1% em 2018. Com discurso direto, Moraes falou sobre as enormes barreiras que precisam ser vencidas. “São inúmeras, mas entre as principais estão a de reduzir a ociosidade da produção de veículos e de o nosso setor se inserir no mercado mundial. Só existe uma alternativa para que isso aconteça, que é buscar a competitividade”.
Uma boa base de comparação é o México, que consegue exportar para 46 países. O Brasil, com sua baixa competitividade, exporta para apenas 13 países, sendo que o nosso principal parceiro comercial, a Argentina, com a sua forte crise econômica, está levando as nossas exportações ladeiras abaixo.
Luiz Carlos Moraes continuou: “A reforma da previdência é a primeira, a segunda e a terceira prioridade do país. O Congresso deve estar consciente do seu papel, pois essa medida não pode ser postergada. Outra condição primordial para o crescimento do país é a reforma tributária”.
Desde o começo da Anfavea, em 1956, tendo Manoel Garcia Filho (da Vemag) como presidente, o Brasil passou por muitos altos e baixos. Imagine que, naquele tempo, um dos pontos de destaque da indústria foi que a General Motors iniciava a produção de geladeiras Frigidaire.
Passados 63 anos é inegável o crescimento e fortalecimento do setor automotivo e da Anfavea, que o representa. A entidade tem hoje 26 empresas associadas, que produzem automóveis, veículos comerciais, caminhões, ônibus e máquinas agrícolas.
Mas, como diz um ditado árabe, a vida é uma roda. Tanto podemos estar na parte de cima, a da riqueza, como a roda virar para baixo, nos deixando na pobreza. Esperamos que a roda volte a girar no país para nos colocar no topo, com a Anfavea continuando o trabalho das últimas gestões, agora com o Luiz Carlos Moraes à frente dos desafios almejados pela indústria.
Foto: divulgação
Deixe seu Comentário