
O funcionário da área administrativa da fábrica vinha fazendo, há muito tempo, horas extras sem necessidade. Seu trabalho era muito burocrático e não exigia que isso acontecesse. Durante uma auditoria, o abuso foi descoberto. A primeira reação do responsável pelo setor foi a de demissão imediata, ainda que fosse uma pessoa exemplar, quer fosse no trabalho, quer fosse no relacionamento com os colegas.

Diante dessa condição do funcionário, o assunto chegou até o diretor de RH da GM do Brasil, Herbert Brenner, que puxou para si a responsabilidade de decidir como resolver o caso, mostrando, com a solução, o melhor das faces de um ser humano: a bondade e o respeito ao próximo.
Nascido na Áustria, em Innsbruck (fica no Tirol, nos Alpes. Tem um funicular com 2.256 metros, desde o centro até o alto da montanha de onde partem os esquiadores) Herbert Brenner (“Seo” Brenner como o chamávamos), um homenzarrão, com 1,92 m de altura, atentos olhos verdes e um rosto sempre pronto para um largo sorriso. E, no quesito automóvel um pé de chumbo quando se tratava de acelerar pelas estradas.
Não era um diretor (ele já nos deixou) daqueles sempre prontos a fechar a cara e dar muitas broncas, como eram muitos diretores daquela área e de outras também. Sua grande preocupação era o bem estar dos funcionários o que, segundo ele, era a garantia de um bom resultado para a empresa. E aí é que vem a bela história, para demonstrar o sentido humanitário do Sr. Brenner.
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No dia em que a auditoria descobriu o que vinha acontecendo há, muito tempo, sem que houvesse necessidade para isso, foi um horror! Os chefes queriam sua demissão.
-Onde já se viu? Um absurdo! Era o mínimo que se falava no departamento em que ele trabalhava e também, no RH.
Pois bem, quando o assunto chegou ao diretor, “Seo” Brenner, ele ao invés de ter reações semelhantes aos dos seus subordinados, quis saber o porquê daquelas horas extras desnecessárias e mandou chamar o funcionário em sua sala.
E mandou me chamar também. E lá fui eu, só sabendo do motivo da reunião quando ele me contou.
Quando o funcionário chegou, certamente sabendo o motivo de ter sido chamado para a sala do diretor, o “Seo” Brenner o tratou com cordialidade, oferecendo café, água. Enfim, gentileza, que era uma de suas virtudes.
E pediu que o funcionário explicasse a razão daquelas horas extras irregulares. E ouviu algo que o fez sorrir levemente, como aconteceu comigo e com outras duas pessoas que estavam na sala.
– “Seo” Brenner, acontece que eu fico até a hora em que o restaurante é aberto para o jantar. Janto aqui, e depois vou para casa. (Na época a fábrica operava em três turnos, dai o horário do jantar).
E, imensamente constrangido, confessou que sua esposa cozinhava tão mal, que ele não conseguia comer o que ela fazia. Por isso, jantava na fábrica e depois voltava para casa.
O diretor então, com uma voz mansa alertou-o de que aquilo era desonesto e que ele teria que ser demitido, pois se apropriara de valores de modo irregular.
O funcionário, com a voz embargada, em sua defesa revelou que jamais ficara com um único centavo do dinheiro daquelas horas extras. Ele doava os valores para a mesma entidade que a empresa colaborava. E que tinha todos os comprovantes dos depósitos para provar o que dizia.
Consultada a entidade, foram comprovadas as doações.
Diante disso, o “Seo” Brenner alertou o funcionário que ele não mais seria demitidos, mas sim receberia uma advertência e suspensão por alguns dias (não lembro quantos), dispensando-o.
Quando ele saiu, o diretor pediu que alguém chamasse na sua sala o presidente do clube dos funcionários. Quando este chegou, o “Seo” Brenner orientou-o a promover, com urgência, um curso de culinária no clube e que tivesse a certeza de que a esposa daquele funcionário, dele participasse.
Era um pé de chumbo
Ele morava em São José dos Campos e trabalhava em São Caetano do Sul, (porque não queria interferir na vida da família com mudanças) fazendo diariamente o trajeto de ida e volta, como muitos funcionários da empresa. Mas, nenhum deles era tão rápido quando o “Seo” Brenner.
Um dia, mesmo sabendo que seria difícil acompanhá-lo, por causa da sua fama de pé de chumbo, perguntei a ele se poderia segui-lo, pois precisava ir a um evento em São José dos Campos naquela noite. E ele sabia um caminho que evitava o trânsito complicado de São Paulo, no final da tarde.
Advertiu-me sobre a necessidade de ser rápido. Mas, nas poucas vezes em que me perdeu no retrovisor teve a gentileza de me esperar. Mas, quando alcançamos a Via Dutra, o pé direito do “Seo” Brenner “pisou fundo”, e o motor 6 cilindros dos seu carro o fez desaparecer em poucos segundos. Mas aí eu já estava “em casa” como se diz na gíria.
Rei da “navalha”
E esse estilo “pé de chumbo”, sempre foi uma característica do personagem desta coluna. Entre os anos 77 e 78 havia, na fábrica de São José dos Campos, um concurso de “navalhadas” no trânsito, promovido entre os colegas de trabalho. Segundo comentários, Brenner o venceu várias vezes, por estar sempre andando em alta velocidade.
Graxa ao invés de óleo
Sem o mínimo conhecimento de mecânica, mesmo trabalhando em uma indústria automobilística, nosso personagem um dia resolveu cuidar do motor da lancha da família. E lá foi ele, com um recipiente de graxa, colocando-a no lugar onde deveria colocar o óleo do motor. A cena foi registrada por um membro da família.
Esse era o “Seo” Brenner, uma pessoa gentil e generosa, inclusive com seu pé direito.
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