Bem, cá estou eu tentando lembrar quando isso realmente aconteceu. Só tenho, como certeza absoluta, que era uma quarta-feira, após o almoço.
LEIA MAIS:
Salvando o peixe-boi
O amor está no ar
Certeza mesmo! Certeza, por que?
Bem, lá estávamos nós, na Sucursal de O Globo, querida Sucursal, cheia de bons amigos – muitos deles que conservo, com alegria, até hoje. Era uma quarta-feira modorrenta, sem nenhuma novidade, um olhando pra cara do outro, sem ter qualquer perspectiva de que algo merecedor de notícia iria acontecer naquele dia.
Daí me ocorreu uma ideia louca. Descolei o número do Palácio do Planalto, peguei o telefone e liguei pra lá.
– Palácio do Planalto (ou Presidência da República, não lembro exatamente como fui atendido), boa tarde, às suas ordens!
– Boa tarde, por favor, queria falar com o presidente Figueiredo.
– Quem quer falar com ele?
– Um brasileiro (dei nome e RG para me identificar)
– Hoje é quarta-feira e o presidente não dá expediente após o almoço, como é a praxe militar. Ele está na Granja do Torto. (Viram agora porque tenho certeza de que aconteceu numa quarta-feira, entre 1980 e 1983? Foi neste período que trabalhei em O Globo)
– Pode, por favor, me fornecer o telefone de lá?
Deram!!!
Ao meu lado os colegas me olhavam como se eu estivesse enlouquecido. Será?
Liguei!!!
– Granja do Torto, boa tarde!
– Boa tarde, gostaria de falar com o presidente Figueiredo.
– Quem deseja falar com ele?
– Um brasileiro (nome/RG).
Para minha mais absoluta surpresa, fui transferido para aquele que era o braço direito (e também o esquerdo) do presidente Figueiredo, o Major Dourado. (Diz a lenda que ele e Figueiredo saiam pelas madrugadas de Brasília em possantes motos para aliviar as tensões do dia-a-dia).
Atendido com toda cortesia pelo Major Dourado, a quem me identifiquei (brasileiro,RG …) e disse que queria falar com o presidente Figueiredo.
– Infelizmente isso não será possível hoje, porque às quartas-feiras, o presidente não dá expediente no período da tarde! Mas eu vou lhe dar um número do Palácio da Alvorada.
E deu o número.
Ligue-me amanhã e vamos ver se conseguimos que fale com o presidente. Boa tarde!- Boa tarde, obrigado.
Nesta altura eu já nem sabia o que fazer. Nem ninguém ao meu lado.
Levamos o assunto para a chefia da Sucursal, o querido Wilson Gomes, que passou o caso para a sede de O Globo, no Rio.
– Esqueçam, não levem o assunto adiante.
Foi assim que terminou o mais angustiante (agora divertido) telefonema da minha carreira, que neste ano completa 50 anos.
Será que se ligar para o Palácio do Planalto, numa quarta-feira qualquer, o novo presidente vai me atender?
Deixe seu Comentário