
O Sertões BRB 2023 consagrou seus campeões deste ano após grandes disputas. Foram nove dias, três estados, 3.700 quilômetros de terra, areia, pedras e tudo o mais que estava reservado para a 31ª edição da prova. O desafio de encarar o maior rally das Américas chegou ao fim após várias dificuldades ao longo do caminho e um visual paradisíaco serviu de cenário para comemorar a vitória que, na verdade, foi de todos os que o percorreram, já que a prova confirmou a promessa de que seria uma das mais exigentes da história. A Praia do Preá, em Cruz, CE, serviu de cenário para a festa e a consagração dos grandes campeões.

Nos carros, o Sertões BRB 2023 favorecia, na teoria, os carros 4×4 da categoria T1+, a principal da modalidade no mundo. Mas Marcelo Gastaldi e Cadu Sachs (Century CR6-T / Baja Tek) driblaram os problemas e conseguiram ser velozes para também comemorar de forma inédita. A boa vantagem na classificação geral deu à dupla a chance de fazer com tranquilidade a última etapa, marcada pela travessia de longas extensões de areia e a navegação por waypoints. Até mesmo a configuração de potência usada no buggy sul-africano foi menos extrema que a usual para evitar sustos. Sinônimo de festa na rampa montada junto à Vila Carnaúba.

Entre os UTVs, a disputa confirmou a velha máxima de que o rali só termina na chegada da última especial. A 10 quilômetros dela, a máquina de Rodrigo Varela e Matheus Mazzei (Can-Am Maverick X3 / Monster Energy Varela Racing), que começaram o dia na liderança, entrou em modo de segurança. Deni do Nascimento e Gunnar Dums (Can-Am Maverick X3 / Bompack Racing) tinham uma desvantagem de 1min28 para descontar, e fizeram isso com sobras, após impor um ritmo forte. Para Deni, foi o segundo título, após o de 2019. Gunnar comemorou pela primeira vez.

Em meio a tantos especialistas dos ralis e 90 duplas inscritas, dois nomes mais conhecidos pelos resultados nos autódromos chamaram a atenção. Felipe Fraga fechou sua participação de estreia como sétimo na geral e terceiro na categoria UTV2. Já Nelsinho Piquet levou o título na UTV3.

Nas motos, o norte-americano Mason Klein (KTM 450 Rally Replica / DM Workshop Carnaúba Wind House) justificou a condição de revelação do rali cross-country internacional. Sem conhecer as características dos terrenos brasileiros e alguns macetes da navegação adotada no Sertões, ele dominou desde o início, mostrando-se totalmente à vontade. Um desempenho que trouxe uma emoção especial: embora seja o atual campeão mundial na categoria Rally 2, foi a primeira vitória do californiano na classificação geral. E ainda marcou o fim de um jejum de uma década para a KTM – a última vitória laranja havia sido em 2014 com o espanhol Marc Coma, um dos grandes de todos os tempos.
Gabriel Bruning (Yamaha WR 450F / IMS Yamaha) escoltou Mason como o melhor brasileiro, levando ainda a categoria Rally 2. O argentino Martin Duplessis (Honda CRF 450RX / Honda Racing) veio a seguir, com três países diferentes nos três primeiros lugares.
Os campeões
Carro
Marcelo Gastaldi (piloto)
41 anos (Ribeirão Preto-SP)
Amazonense de coração (se mudou para Manaus com dois meses de idade e leva a bandeira do estado em seu macacão), Gastaldi estreou no Sertões em 2014, nos UTVs, modalidade em que conseguiu o quarto lugar em 2018. Dois anos depois, estreou nos carros com um Buggy Giaffone V8. Com o Century CR6, disputou duas edições do Dakar (2021 e 2022), a segunda com Cadu Sachs na navegação, e conseguiu estar no top-10 de etapas nos carros.
Cadu Sachs (navegador)
25 anos (Piracicaba-SP)
Cadu aprendeu em casa o ofício da navegação – seu pai, Du Sachs, é hoje o diretor de prova do Sertões. Já em provas de mountain bike na infância ele começou a colocar em prática um talento que avançou para o rally cross-country. Depois de uma primeira experiência na equipe técnica do maior rally das Américas, estreou na competição em 2014, nos UTVs. Em 2020 iniciou a parceria com Marcelo Gastaldi que valeu inclusive sua primeira participação no Dakar.

UTV
Deni Nascimento(piloto)
45 anos(Brusque-SC)
Deni começou no esporte pelas duas rodas, no Veloterra, conquistando títulos brasileiros e sul-brasileiros. A convite de um amigo, estreou no Sertões em 2008, sempre nas motos. Já no ano seguinte foi vice-campeão na geral e campeão de sua categoria. Nos UTVs, conquistou o título pela primeira vez em 2019, repetindo o feito neste ano.
Gunnar Dums
29 anos (São Bento do Sul-SC)
O catarinense Gunnar começou a navegar ainda menino, ganhando destaque nas provas de regularidade, em que conseguiu seus primeiros resultados de destaque. No rali cross-country, se tornou campeão brasileiro da categoria UTV1 em 2022.

Moto
Mason Klein
22 anos (Agua Dulce – EUA)
O californiano é considerado um dos principais nomes de futuro dos ralis cross-country nas motos. Numa modalidade que costuma premiar nomes com maior experiência, ele se sagrou campeão mundial (W2RC) na categoria Rally2 no ano passado e terminou seu primeiro Dakar entre os 10 na geral. Na prova de 2023, venceu uma etapa do mais tradicional rally do mundo e liderou a classificação geral, antes de abandonar por contusões. A paixão pelo off-road é tanta que ele fez questão de buscar pilotando seu diploma da High School.

Sertões BRB 2023
Quilometragem total percorrida
Moto / UTV / Quadriciclo: 3.703km
Carro: 3.660km
Classificação final
CARRO
1) Marcelo Gastaldi / Cadu Sachs, Century CR6-T, (1)T1F, 26h20min13
2) Marcos Baumgart / Kleber Cincea, Prodrive Hunter, (1)T1+, a 13min52
3) Mauro Guedes / Edu Bampi, Toyota GR Hilux DKR, (2)T1+, a 1h14min15
4) Carlos Ambrosio / Luiz Afonso Poli, Century CR6, (2)T1F, a 1h43min25
5) Marcos Moraes / Fábio Pedroso, T-Rex, (1)T1, a 2h13min08
UTV
1) Deni do Nascimento / Gunnar Dums, Can-Am Maverick X3, (1)UT1, 28h30min17
2) Rodrigo Varela / Matheus Mazzei, Can-Am Maverick X3, (2)UT1, a 1min39
3) Thiago Fraga / Álvaro Amarante, Can-Am Maverick X3, (1)UT2, a 33min00
4) Bruno Varela / Gustavo Bortolanza, Can-Am Maverick X3, (3)UT1, a 35min06
5) Gabriel Cestari / Jhonatan Ardigo, Polaris RZR Pro R, (2)UT2, a 35min50
MOTO
1) Mason Klein (EUA), KTM 450 Rally Replica, (1)MT1, 28h14min19
2) Gabriel Bruning, Yamaha WR 450F, (1)MT2, a 14min21
3) Martin Duplessis (ARG), Honda CRF 450RX, (2)MT1, a 15min15
4) Gabriel Soares, Honda CRF 450RX, (2)MT2, a 45min25
5) Bissinho Zavatti, Honda CRF 450RX, (3)MT1, a 1h10min18
QUADRICICLO
1) Wescley Dutra, Yamaha Raptor 700, (1)QDA, 36h10min48
Depoimentos dos vencedores
Marcelo Gastaldi (piloto campeão Carro)
“Muito feliz por ter vencido o Sertões, nosso carro sempre foi competitivo desde a primeira participação; tínhamos conquistado algumas etapas, mas a classificação geral do rali é diferente. A constância deu resultado e finalmente conseguimos, em uma edição de um grid muito pesado, com várias máquinas de ponta. O 4×2 é muito prazeroso de pilotar, me divirto muito com ele, e o resultado vem como consequência”.
Cadu Sachs (navegador campeão Carro)
“A ficha ainda está caindo, quando passamos pelo último controle da prova é que começamos a nos dar conta. É um carro 4×2, achávamos que ainda não tínhamos condições de vencer esse ano, mas sempre fizemos o nosso melhor. O Century não teve qualquer problema ao longo de todos esses dias, contamos aqui com o suporte de seu construtor e uma equipe incrível. É um sonho, até difícil de acreditar”.
Deni Nascimento (piloto campeão UTV)
“Tivemos que exigir tudo e mais um pouco, tanto de nós quanto do carro. Subimos um pouco a régua do ritmo, corremos alguns riscos, conseguimos superar todos os obstáculos e tirar a diferença que faltava. Acreditamos todo o tempo, falei que eu iria acelerar até a rampa de chegada e funcionou. O título de 2019 foi especial por ser o primeiro, mas esse foi bem mais difícil pelas circunstâncias”.
Gunnar Dums (navegador campeão UTV)
“Ainda não consigo acreditar, completei a especial achando que não tínhamos conseguido, mas de repente vi que o tempo do Rodrigo (Varela) e do Matheus (Mazzei) tinha sido mais alto do que precisávamos para vencer o rali. É uma sensação muito incrível, um sonho que estou realizando ao vencer o Sertões pela primeira vez”.
Mason Klein (campeão Moto)
“O Sertões foi uma das melhores provas de que participei, e também minha primeira vitória na classificação geral. Um rali que me ensinou muitas coisas novas. Eu me diverti bastante sobre a moto. Me senti à vontade no início para adotar um ritmo forte e, quando consegui uma vantagem confortável, procurei não correr riscos. Volto para casa com ótimos momentos e lembranças na bagagem”.
Texto base original: Rally dos Sertões / divulgação
Fotos: Rally dos Sertões / divulgação
Deixe seu Comentário