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Protagonista Racing: Dener Pires

9 Minutos de leitura

  • Publicado: 14/08/2016
  • Atualizado: 14/08/2016 às 19:08
  • Por: Racing

<p><img alt="Dener Pires está à frente do Porsche GT no Brasil" height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/dener_pires_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>

<p>Continuação da entrevista feita com Dener Pires na edição 342 da Revista Racing</p>

<p><strong>RACING Online – Esse ano a Porsche GT3 voltou a ser sul-americana. Gostaríamos que você falasse do Endurance, e das novidades para a temporada 2016.</strong></p>

<p>Dener Pires – Vendo esse lado econômico que o Brasil vive e para conseguir atender aos nosso pilotos, dividimos o nosso campeonato em Sprint e Endurance. O Sprint se reduziu para seis etapas somente. Lógico que ficou mais econômico. Tem pilotos que preferem corridas de endurance, que faz parte do DNA da Porsche. Então a gente criou esse campeonato. Nossa equipe nasceu em corridas de Endurance, onde participamos várias vezes de 1000 Milhas. Eu participei de 24 Horas de Le Mans, 24 Horas de Daytona e algumas provas do campeonato europeu no passado. Então todos os pilotos gostam, pois reúne mais tempo de pista, é um carro concebido para esse tipo de prova, além do lado da parceria de pilotos que se conectam para poder participar junto no mesmo carro, equipe também. A gente criou essa corrida no ano passado como uma edição comemorativa de nossos dez anos. Então, essa corrida de endurance é uma oportunidade também para que alguns pilotos convidarem alguns amigos de automobilismo e participar aqui ou outros pilotos de outras categorias, que gostariam de experimentar o Porsche e participar. E, para aqueles que querem correr o ano inteiro, soma tudo isso, e dá um campeonato misto. A gente sabe que o nível de pilotagem é cada vez mais alto, então a gente resolveu oferecer esse prêmio para o “campeão absoluto” brasileiro de Porsche, terá uma vaga para representar a Porsche em uma corrida preliminar das 24 Horas de Le Mans, no circuito grande, com um carro igual ao da Cup. Além de tudo, o piloto que ganhar, terá uma experiência muito legal correr neste circuito, com pilotos de outros países.</p>

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<p><strong>RACING Online – Como começou seu envolvimento com a Porsche?</strong></p>

<p>Dener – Na verdade, a minha história com a Porsche vem desde menino. Eu era apaixonado pelos carros, o que é algo parecido com muitos que frequentam a equipe. Eu também sempre tive essa relação com a mecânica e a competição. E aí chegou um momento da minha vida em que eu consegui unir a Porsche, que era minha paixão, com a competição. E aqui no Brasil ainda não havia nenhum time estruturado com esse tipo de carro. Então, desde 1994, 1995, eu comecei a participar com um time nas 1000 Milhas, nos 500 Quilômetros, e aí a gente veio participando destes eventos. O projeto da Porsche Cup começou em 2002, mas em 2005 a gente conseguiu colocar o projeto em pé, todo esse trabalho que a gente teve antes com a Porsche, nesses campeonatos de endurance no Brasil ou mesmo em corridas fora, onde trabalhei como técnico, como mecânico. Isso tudo serviu como experiência para mostrar para a Porsche que a gente teria condições de organizar um campeonato aqui no Brasil. Em 2005 foi o primeiro grid formado pela Porsche Cup, com 15 carros. E dali para frente a gente percebeu que tinha um caminho importante para seguir, que a gente teve erros e acertos com um trabalho que seguiu bem. A gente conseguiu evoluir bastante com isso, e chegamos até aqui. Já passaram mais de 200 Porsches pela nossa mão entre todos que a gente já trabalhou e fez corridas, desde 1000 Milhas até os últimos Porsche Cup. Nas corridas de 24 Horas de Daytona eu também participei desde 1995 até 2000, trabalhando com um time alemão, mas em 1998 eu levei um time montado por nós aqui, fizemos uma participação boa, tivemos um bom resultado, andando em segundo e terceiro, e por um acidente, terminamos em quarto. Tivemos outra experiência em 2013, que no final a gente teve problemas com os motores dos carros, e também experiências que eu tive particularmente com o FIA GT, com corridas na Europa, e algumas edições em Curitiba e Brasília em 1996 e 1997.</p>

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<p><strong>RACING Online – Como começou a equipe? Qual a estrutura dela hoje?</strong></p>

<p>Dener – Essa equipe veio derivada do time de endurance, que tinha de seis a oito pessoas. E a gente foi sentindo a necessidade de agregar mais serviços à equipe. Então eu diria que, logo que a gente começou a montar os eventos, a gente sentiu que teríamos de ter toda uma equipe de desenvolvimento de eventos. Montagem, contratações… Tudo o que não tem haver com o carro, mas sim com o evento esportivo. Logo se viu essa necessidade. E começou com a Regina, que foi contratando pessoas, administrando e aprendendo com tudo isso, e que montou essa equipe que hoje funciona muito bem e que consegue montar os eventos num todo. Equipe técnica e de mecânicos também, começou com o Júnior, o José, que trabalhavam comigo e foram evoluindo, e chegaram a essa equipe hoje também, que a gente tem entre 25 a 30 funcionários, mas que num final de semana chega a ter 100 pessoas. Um pouco mais para frente, a gente teve a necessidade de uma equipe de engenheiros, pois os carros passaram a ter uma aquisição de dados, coisa que a primeira geração de carros não tinha. Então surgiu a ideia de fazer um contato com faculdades e buscar engenheiros, pois aqui no Brasil, a gente buscando quem tinha experiência no mercado, eles tinham diferentes níveis, e a gente precisava de uma coisa no mesmo nível. Então minha ideia foi buscar novos talentos, oferecer oportunidades para pessoas que tinham boa base teórica, mas não tinham prática por falta de oportunidade. Então a gente trouxe todo esse pessoal para cá, ministrou cursos, levou à pista para testes práticos, e isso deu um bom resultado para a gente. Temos o Enzo, que trabalha como engenheiro, o Vinicius, também, que trabalha com os engenheiros, o Marcel, que fazem com que todos os engenheiros trabalhem dentro e um procedimento. Já passaram mais de 200 engenheiros que foram formados por nós, e que tomaram outros caminhos. Tem engenheiro que hoje está na Inglaterra chefiando o departamento de competição da Aston Martin. Tem gente que está na Alemanha. Tem gente que foi para outro lugar por indicação nossa. Então a gente acha muito legal também ter contribuído para que esses profissionais tivessem essa experiência e pudessem desenvolver esse lado do automobilismo, que a gente sentia que não tinha grandes oportunidades.</p>

<p>A parte administrativa, que eu tenho uma força, comandada pela Silvana e pela equipe dela. A parte de divulgação, comandada pelo Luís Ferrari e equipe dele, conseguindo uma divulgação importante para os níveis que temos atingindo. Nosso departamento de marketing vem fazendo parcerias sólidas. Todos os nossos parceiros chegam para participar com a gente, e estão aqui faz 11 anos, então a gente tem conseguido fazer a entrega conforme a expectativa. Então, claro que a Porsche é uma máquina maravilhosa, a assessoria da fábrica da Alemanha é fundamental, mas sem esse pessoal, não chegaríamos aonde chegamos.</p>

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<p><strong>RACING Online – Você acha que isso é responsável por essa integração Alemanha-Brasil?</strong></p>

<p>Dener – De tempos em tempo, junto alguns membros e vamos à Porsche fazer alguns cursos de modelos novos e atualizações. Uma das “exigências” era de que fosse uma equipe totalmente brasileira, então não precisamos de ninguém de fora para fazer algum serviço ou resolver um problema. Nós somos 100% autossuficientes, ou seja, os motores dos carros são feitos aqui,  câmbio, parte eletrônica, alinhamento, freio, desenvolvimento e recomposição de amortecedores, com todos os níveis exigidos pela fábrica, passando por teste de dinamômetro e uma série de coisas, e que a gente consegue fazer um trabalho exatamente igual ao que a Alemanha entrega. Uma prova disso é que chega um carro novinho da Alemanha, a gente leva para a pista, ele tem uma determinada performance, e depois de três anos, a gente mede e geralmente ele tem uma performance igual, ou um pouco melhor. A gente encontra uma regulagem, mas ele não piora. Em três anos, é fácil imaginar que o motor teve que ser refeito, ou o freio, a suspensão. E a gente consegue manter esse padrão, e o carro passa um ciclo de três ou seis anos aqui com a performance igual ou melhor de que quando era novo. Isso é uma certificação de que o trabalho feito aqui funciona muito bem.</p>

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<p><strong>RACING Online – Como é a segurança destes carros?</strong></p>

<p>Dener – Acho que a gente tem que falar dos carros e do contexto geral do evento. Sobre o carro, o Porsche Cup é o carro de corrida mais fabricado do mundo e ele é fabricado em cima de um carro 911, que já é muito seguro. Quando ele passa por esse tratamento, que é a gaiola, santantônio e uma série de outras coisas, ele fica extremamente seguro. Então a gente teve uma prova com o acidente do Pedro Piquet e alguns outros acidentes em que a gente viu que, quando colocamos o equipamento em teste, tudo aquilo que é concebido e mostrado na fábrica funciona. Então a gente fica muito seguro com isso. Tem que ter um outro cuidado também que é ter um autódromo seguro, a equipe de resgate segura. Tudo isso porque só o carro seguro não resolve esse problema. E os autódromos do Brasil, alguns deles, deixam a desejar no quesito segurança.</p>

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<p><strong>RACING Online – Como funciona a recuperação de um carro que sofre um acidente?</strong></p>

<p>Dener – Esse é um ponto fortíssimo do nosso campeonato. A gente não tem carro que dá perda total, carros que desaparecem. Todos os carros são recuperáveis. A gente tem um exemplo com um dos acidentes mais espetaculares, que foi o acidente do Pedro e ele correu depois com o mesmo carro – e teve uma boa performance. Para isso, a gente tem uma série de recursos: gabaritos, ferramentas que conseguem recuperar o carro sem comprometer a segurança dele em caso de novo acidente, como principalmente devolver a performance. Pois tem aquele carro que não fica muito bem alinhadinho, você fala “nossa, esse carro nunca mais foi aquele”. Isso não pode acontecer, pois, novamente, quando a gente volta lá no nosso shakedown, se o carro não estiver em condições perfeitas, ele não vai ser aprovado e não voltará à pista. Existem ainda os choques que acontecem no final de semana, em que é bastante impressionante a capacidade de rapidez para salvar o carro. Então as vezes um carro que bate, no segundo treino, ou no dia seguinte, está pronto. Isso se deve a uma preparação que a gente faz, deixar o carro meio que quase preparado para substituição de peças, endireitar e fazer uma série de coisas para colocar o carro em ordem outra vez. Em nove anos, com 18 corridas por ano, eu não me lembro de mais de dois ou três pilotos que não puderam terminar o final de semana por conta de o carro não ter condições de ser consertado.</p>

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<p><strong>RACING Online – Isso tudo respeitando um quesito de qualidade.</strong></p>

<p>Dener Pires – Sim. Quesito de qualidade, lá no final, no carro de corrida, existe uma conta simples: olhar no cronômetro se o carro virou o tempo que ele tinha que virar. Ele pode estar todo bonitinho, alinhadinho e, quando chega na hora, não virar o tempo que deveria ter feito. Se isso acontece, nosso trabalho caiu por terra. Então ele tem que chegar lá e virar o tempo. Isso vira um laboratório para a gente, pois se a gente não consegue obter aquilo, aquilo vira um case para a gente estudar e chegar até o carro voltar a ser competitivo. O nosso piloto consultor tem grande milhagem com esses carros, estão acostumados, e testam carros comparativamente no mesmo dia. Fica muito fácil identificar se o carro tem algo errado. Fica fácil detectar, as vezes não é fácil de resolver. Mas aí temos uma equipe boa que consegue resolver. Não teve caso em que a gente não conseguiu deixar o carro como deveria.</p>

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