Card image
Notícias
Por trás da câmera: Mark Sutton

8 Minutos de leitura

  • Publicado: 14/10/2016
  • Atualizado: 14/10/2016 às 21:10
  • Por: Racing

<p><img alt="Aos 51 anos, Sutton está em sua 25ª temporada como fotógrafo na F1" src="/wp-content/uploads/uploads/mark_sutton2_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>

<p>Com mais de metade de sua vida dedicada à cobertura de competições automobilísticas, Mark Sutton é um dos fotógrafos de Fórmula 1 mais experientes e prestigiados da atualidade. Responsável por registrar momentos memoráveis da categoria desde 1992, o inglês comanda, ao lado do igualmente popular (e talentoso) irmão mais velho, Keith, a Sutton Images, agência fotográfica com dezenas de clientes pelo mundo e um acervo de quatro milhões de fotos. Nada mau a um empreendimento que, 31 anos atrás, era sediado em uma residência de três dormitórios em Towcester, pequena cidade ao sudeste da Inglaterra. </p>

<p>Alheio ao sucesso, fato é que Mark trata-se de um daqueles clássicos casos de paixão hereditária por automobilismo. Ainda na infância, no final dos anos 60, ele e Keith eram levados pelo pai, Maurice, a circuitos para acompanhar corridas. Seria a terceira geração de interessados pelo esporte na família, algo que fora inciado com o avô dos garotos (e pai de Maurice) antes mesmo da instituição da F1, ocorrida em 1950.</p>

<p>Quando Keith tornou-se fotógrafo profissional, aos 17 anos, Mark não teve dúvidas: pegou "carona" na carreira. Inicialmente, ajudando o irmão a revelar e imprimir fotos; depois, com seus cliques, inclusive a um cliente que despontava como uma grande promessa do automobilismo, um tal de Ayrton Senna.  </p>

<p>Aliás, logo em uma de suas primeiras provas, válida pela F3 Britânica, em 1983, Sutton registrou um dos momentos mais marcantes da carreira do brasileiro: o acidente em que o carro do futuro tricampeão de F1 pousou a centímetros da cabeça do inglês Martin Brundle. </p>

<p>"Eu me posicionei em um canto do lado oposto da pista", recorda Mark. "Então Senna e Brundle contornaram a curva lado a lado e bateram. Essas imagens são muito famosas e representam meu começo no segmento de fotografia automobilística".</p>

<p>Nessa entrevista exclusiva ao <strong>Por trás da câmera</strong>, mais novo canal do site <span style="color:#B22222;"><strong>RACING Online</strong></span>, Mark Sutton fala sobre diversos momentos de sua carreira, inclusive o mais difícil de todos: o Grande Prêmio de San Marino de 1994.</p>

<p> </p>

<p><strong>RACING Online –  Como surgiu seu interesse por automobilismo?</strong></p>

<p>Mark Sutton – Meu pai (Maurice) tinha interesse por corridas desde muito cedo, (sendo apresentado ao esporte) por meio de meu avô. Certa vez, meu irmão Keith e eu estávamos assistindo uma corrida no circuito de Oulton Park, em Chesire, perto de Manchester. Nós fomos levados quando éramos crianças e assistíamos a pilotos famosos que foram participar de uma corrida tradicional, chamada de Gold Cup. Entre eles estavam Jim Clark e Graham Hill. Isso foi lá no fim da década de 1960.  Então meu irmão Keith conseguiu uma autorização do gestor do circuito para fotografar de frente a uma cerca. Eu seguia interessado e ajudando ele nos processos e impressão das imagens em nossa casa, em Cheadle.</p>

<p> </p>

<p><strong>RACING Online – Uma de suas primeiras coberturas ocorreu em uma prova de Fórmula 3 Britânica, no circuito de Oulton Park, quando houve aquele icônico acidente entre Ayrton Senna e Martin Brundle. Você era o único fotógrafo no local do acidente, não é?</strong></p>

<p>Mark Sutton – Em 1983, meu irmão Keith tornou-se o fotógrafo de Ayrton. Ele o conheceu em 1982, na Formula Ford 2000. Eu tinha 18 anos em 1983. Cheguei à corrida na qual Ayrton Senna da Silva estava correndo e me posicionei em um canto do lado oposto da pista. Então Senna e Brundle contornaram a curva lado a lado e bateram. Essas imagens são muito famosas e representam meu começo no segmento de fotografia automobilística. Em uma das fotos, eles olham para seus carros e vêem como foram sortudos por sobreviver. A batalha continuou até a última prova do ano e Ayrton se tornou campeão.</p>

<p><img alt="Acidente entre Senna e Brundle é um dos primeiros registros de Sutton" src="/wp-content/uploads/uploads/senna-brundle_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>

<p><strong>RACING Online – Quão importante essa foto foi para impulsionar sua carreira?</strong></p>

<p>Mark Sutton – Essa foto me mostrou que eu poderia ter sorte e seguir meu sonho de fotografar automobilismo. Então me tornei fotógrafo da Fórmula 1, em 1992.</p>

<p><em>Nota da redação: Antes de se dedicar exclusivamente à F1, Sutton cobriu categorias inglesas por aproximadamente oito anos.</em></p>

<p> </p>

<p><strong>RACING Online – Dois anos atrás você descreveu uma foto da McLaren do finlandês Mika Häkkinen voando (em treino ao GP da Austrália de 1993) como sua favorita. Mantém essa decisão?  </strong></p>

<p>Mark Sutton – Sim, essa é a minha mais famosa imagem – assim como da Sutton Images. Ela foi feita durante um dos treinos livres. Havia mais de dez fotógrafos colocados na mesma curva, atrás de um muro de concreto e uma placa publicitária. Havia pouco espaço para que pudéssemos nos movimentar.</p>

<p><img alt="Vôo de Häkkinen em Adelaide é o registro predileto do fotógrafo inglês" src="/wp-content/uploads/uploads/mclaren_hakkinen_620x467.jpg" style="opacity: 0.9; margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>

<p>Estava tirando uma fotografia panorâmica na direção oposta, com uma velocidade de obturador ajustada para 1/125 de um segundo, de maneira a obter um efeito sutil de desfoque. Então ouvi o “apito” de freios, olhei para cima com minha câmera e vi a McLaren de Mika Häkkinen voando pelo meio-fio. Eu mantive meu dedo no botão e tirei logo a foto sem ter certeza se estava nítida ou bem enquadrada. Olhei em volta e perguntei se alguém tinha visto ou fotografado aquilo. Todos disseram: “Não, eu perdi”.</p>

<p>O filme foi processado durante a noite e, voltando na manhã seguinte, vimos os registros na câmara escura. Houve um instante em que meu irmão Keith gritou “Isso é incrível!”. Todos olharam para ele, que mostrou aquele momento. Muitos fotógrafos disseram “Incrível! Bem feito!”.</p>

<p>Então eu fiz três impressões, (em papel de) 20 por 16 polegadas. No começo da tarde, eu peguei uma para presentar ao Mika. Ele me falou: “Nossa, eu realmente fui bem alto!”. Os engenheiros da McLaren vieram e disseram que repararam um “pontinho” na telemetria e ficaram maravilhados por ele conseguir pousar e voltar aos pits. Depois disso, Mika assinou a foto: “The Flying Finn” (O Finlandês Voador, em português) Mika Häkkinen.</p>

<p><strong>RACING Online – Alguns jornalistas dizem que o acesso aos pilotos hoje é mais difícil que há 25, 30 anos atrás. Há muitas áreas restritas, muitos assessores. O que mudou para os fotógrafos nesse período?</strong></p>

<p>Mark Sutton – Sim, as coisas mudaram, assim como o mundo em geral mudou. Computadores e tecnologia têm tomado mais o tempo dos pilotos e também de patrocinadores e da imprensa, então dificilmente nós os vemos por causa disso. Mas algumas corridas nas quais não há motorhomes e o tempo está bom oferecem grandes chances nas quais os pilotos “estejam fora”. Até mesmo eventos de patrocinadores oferecem boas oportunidades. Também penso que atualmente os pilotos preferem usar as redes sociais para promoção, com as imagens tiradas por eles ou pela equipe mesmo. Então são eles que estão no controle disso.</p>

<p> </p>

<p><strong>RACING Online – Hoje em dia, muitas das corridas de Fórmula 1 são realizadas em circuitos modernos e requintados. Esses circuitos também trazem algum benefício à cobertura fotográfica das corridas? </strong></p>

<p>Mark Sutton – Os novos circuitos são menos abertos e menos acessíveis aos fotógrafos na maioria dos casos, mas alguns deles, como Abu Dhabi, Baku e Austin oferecem alguns grandes cenários emblemáticos com incríveis edifícios e construções. Esses rendem imagens com o carro pequeno e o cenário grande, tornando-se fotos icônicas. Também é ótimo visitar novos países e culturas pelo mundo, sobretudo porque a Fórmula 1 é um esporte global.</p>

<p><img alt="Para Sutton, Abu Dhabi é um dos &quot;circuitos emblemáticos&quot; para fotos na F1" src="/wp-content/uploads/uploads/redbull_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>

<p><strong>RACING Online – Quais são os principais desafios aos fotógrafos na cobertura em um circuito fechado?</strong></p>

<p>Mark Sutton – Acredito que a principal coisa a se fazer é andar pelo circuito e checar se as posições continuam acessíveis, assim como procurar por novos ângulos. Às vezes, as placas de publicidade cobrem os espaços, na maioria dos casos essas podem ser cortadas e o espaço ser “reaberto”. Logicamente, nós temos que fotografar através desses buracos e isso pode ser difícil oferecendo problemas com certas lentes e velocidades de obturadores, assim como pelo fato de que só metade das pessoas pode fotografar ali.</p>

<p> </p>

<p><strong>RACING Online – Você tem alguma história engraçada de suas coberturas que possa compartilhar conosco?</strong></p>

<p>Mark Sutton – Meu momento mais engraçado foi no Grande Prêmio do Bahrein de 2014. O Sr. Bernie Ecclestone veio para o centro de mídia e estava olhando ao redor e conversando com os profissionais dos meios de comunicação. Em seguida, me viu com a cobertura de tela de minha câmera e me perguntou: “Para que isso serve?”. Respondi que servia para ocultá-lo de outros fotógrafos e da luz. Daí ele me disse: “Tem certeza? Eu acho que seria bom para fazer um chapéu”. E então ele começou a colocar a cobertura de tela na minha cabeça e eu parecia Napoleão com o “chapéu” colocado. Bernie e eu rimos e meu irmão Keith gravou isso para sempre.</p>

<p><img alt="Graças a Ecclestone, cobertura de tela ganha nova utilidade com Sutton" src="/wp-content/uploads/uploads/sutton_ecclestone_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>

<p><strong>RACING Online – San Marino 1994 foi o seu pior fim de semana cobrindo Fórmula 1?</strong></p>

<p>Mark Sutton – Sim, eu não me lembro de tudo daquele fim de semana, preferia até esquecê-lo. Mas nós perdemos dois grandes pilotos. Roland Ratzenberger era um amigo que conhecia desde a Fórmula Ford 1600 e ele ganhou um festival (da categoria) em Brands Hatch. Aquele dia foi trágico e nós trabalhávamos para a Simtek em Ímola, fazendo fotos de Roland, que se mostrava feliz.</p>

<p>O domingo já era um dia triste com os pilotos sem ânimo para correr e desejando que a prova fosse cancelada. Eu me lembro de fotografar Ayrton Senna e Gerhard Berger indo ao briefing de pilotos. No caminho até a torre de controle, apenas falavam com outros pilotos.</p>

<p>Eu me posicionei na curva Tosa. Quando o safety car voltou aos boxes após o acidente da largada e a corrida foi reiniciada. Tudo o que me lembro é de um estranho silêncio e de um enorme choque na multidão. Em seguida, o pouso do helicóptero no circuito e os aplausos da multidão são realmente minhas últimas memórias.</p>

<p>Ninguém realmente queria correr, assim como ninguém (entre os fotógrafos) sabia o que tinha ocorrido, mas quando voltei para o circuito todos diziam que tinha sido uma batida grave. Então eu me lembro de estar no aeroporto com mecânicos da equipe Williams e todos eles falavam sobre a morte de Ayrton. Foi o pior vôo de volta para casa da minha vida. Uma grande memória é a foto do teste de Ayrton em Silverstone, em fevereiro daquele ano, que ele autografou para mim. Ainda tenho os filmes guardados em minha casa.</p>

<p><img alt="Ímola-94 foi pior episódio vivido por Sutton: &quot;Preferia esquecê-lo&quot;, diz" src="/wp-content/uploads/uploads/imola94_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>

<p> </p>

<p><strong>O que não pode faltar na mochila de Mark Sutton</strong></p>

<p>X2 Nikon D5 Camera bodies</p>

<p>Nikkor 500mm F4ED Mk2</p>

<p>Nikkor 200-400mm Zoom F4</p>

<p>Nikkor 70-200 F2.8</p>

<p>Nikkor 24-70mm F2,8</p>

<p>Nikkor 15mm Fisheye</p>

<p>Nikkor 1.4X Mk2 Converter</p>

<p>X2 Nikon speed lite SB-910 flashes</p>

<p>Monfrotto Monopod</p>

<p>X6 15GB XQD cards</p>

Deixe seu Comentário

Comentários