Quando em “A Tribuna”, de Santos, onde comecei minha carreira em 1969, fiz uma reportagem sob o título “Câncer, uma questão de diagnóstico precoce”, com a colaboração do Oncologista Joaquim Pinho, que explicava a necessidade de se descobrir o quanto antes a doença, para que ela não conseguisse avançar.
Foi pensando nisso que, diante dos inúmeros acidentes de ônibus que ocorreram nos últimos dias, que pensei qual seria o diagnóstico precoce para se curar este mal que assola as nossas estradas.
Nestes casos, ao diagnóstico precoce poderia ser dado pelas autoridades, nos casos as policiais rodoviárias de todo o País, mediante rigor na fiscalização, evitando, por exemplo, o maior acidente já registrado no Brasil, quando perderam a vida 68 pessoas. Foi em julho de 1987, na BR 040 (que liga Belo Horizonte ao Rio de Janeiro), próximo a Belo Vale, em Minas Gerais.
Um ônibus urbano, que não pode ser usado em rodovia, chocou-se contra outro, este rodoviário. Além de não poder dirigir em rodovias, o motorista estava embriagado. Se houvesse uma fiscalização eficiente, o urbano teria sido parado e pessoas não teriam perdido a vida.
Nem sempre a embriaguez do motorista é a responsável pelos acidentes fatais, mas também as péssimas condições dos ônibus, com seus pneus “carecas” ou recauchutagem de 5ª categoria; freios deficientes, motores que falham. Sobre recauchutagem é preciso dizer que, quando feita dentro de rígidas normas técnicas, é utilizada até mesmo para aviões (é possível que em alguns casos, até 3 vezes ou mais).
E, por que acontecem tantos acidentes envolvendo ônibus no Brasil? Segundo o Atlas de Acidentalidade do Transporte Brasileiro, em 2021 a desobediência à sinalização e o motorista dormindo ao volante foram as causas mais frequentes. Em seguida, velocidade acima da permitida, ultrapassagem indevida, ingestão de álcool e falta de atenção.
Ainda falando de número, eles impressionam. Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), em 2022 aconteceram 64.446 acidentes no Brasil, sendo que 52.948 pessoas foram vítimas de acidentes envolvendo ônibus. É preciso ressaltar que estes números se referem apenas às rodovias federais.
Em 2023 foram 142 óbitos envolvidos com sinistros em micro-ônibus, 603 óbitos envolvidos com sinistros em ônibus, com o total de 745 vítimas fatais.
Palavra do especialista
Para o especialista no assunto segurança, Thyrso Guilarducci, “o que se observa no cenário brasileiro no espectro de trânsito é uma fragilidade imensa que beira a procrastinação. Não são apenas os ônibus que muitos deles estão em precárias condições. Caminhões em ruínas, verdadeiras sucatas sobre rodas, trafegando impunemente pelas cidades e rodovias. Se um veículo desses atingir um carro particular, além dos riscos de vítimas pessoais, há a responsabilidade civil: certamente o proprietário não possui recursos para indenizar seus atos”.
Por isso, ele recomenda que o ideal é ficar longe deles.
O especialista destaca que “a nossa legislação é suficiente, porém a efetiva fiscalização é como você comentou, Insuficiente mesmo. (Referindo-se à conversa que tivemos)
“Eu – continua ele com sua análise – viajei muito nos Estados Unidos e vejo como são rigorosas as inspeções nas rodovias. Os policiais usam macacões de mecânicos e entram sob as carretas examinando freios, rodas, pneus, mangueiras, parte elétrica, vazamentos, suspensão e direção com elevado grau de rigor. Qualquer anormalidade, além das multas, o veículo só sai do local após reparar as falhas ou guinchado.
Aqui ele menciona um dos maiores problemas. No Brasil ainda temos os fantasmas de ônibus clandestinos que fazem rotas de São Paulo para Teresina no PI (por exemplo) levando passageiros, que encontram nesses valores menores uma forma de poder viajar. É uma situação complicada, pois são coletivos inseguros de modo amplo. Revisões que faltam e muitos deles são os que causam tantos acidentes.
E concluiu “com fiscalização intensa é que isso pode ter um fim”.
Você deve estar pensando, mas por que a coluna só fala em números da Polícia Rodoviária Federal? Porque, em mesmo o especialista tem acesso a eles. Parece haver uma nuvem que encobre os acidentes ocorridos nas estaduais
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