Não há mais dúvida sobre o retorno do automobilismo, conforme mostra esta entrevista com os dirigentes da Copa HB20, dos Sertões e da GT Sprint Race. Por que esses três? Porque a HB20 é um campeonato novo, que está no seu segundo ano, representando uma marca, a Hyundai. O Sertões é um dos campeonatos mais tradicionais, com 28 anos de existência, cujo autódromo é o interior deste imenso Brasil. A GT Sprint Race se posiciona exatamente entre os torneios regionais e nacionais, um campeonato criado em 2012, e que vem se destacando pela seriedade.
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Para saber o impacto da pandemia e principalmente para entender como ficará o automobilismo daqui para frente, com as flexibilizações ocorrendo em diversos segmentos, ouvimos Daniel Kelemen, pela Copa HB20; Joaquim Monteiro, pelo Sertões e Thiago Marques pela GT Sprint Race. A entrevista com os três dirigentes segue ordem alfabética, pelo nome de cada um.
Já estamos no último mês do primeiro semestre. Qual foi o impacto das paralisações das provas para a sua categoria?
Daniel Kelemen – O mundo vai voltar, o futebol vai voltar, o vôlei vai voltar, o basquete vai voltar e o automobilismo também vai voltar. Nós levamos certa vantagem sobre os esportes de contato, porque somos bem individualizados. Cada um tem a sua equipe e fica muito mais fácil fazer um controle.
Joaquim Monteiro – Tivemos de alterar as datas de algumas provas previstas para o primeiro semestre e postergar outras para 2021. Mas é importante ressaltar que o Sertões sempre foi exemplo de segurança e não será diferente agora. Mesmo que a fase aguda do isolamento social fosse superada antes de agosto, data original do Sertões, os competidores não teriam tempo para retomar a sua rotina, recompor suas atividades profissionais e se preparar para a prova. Com a nova data, de 7 a 15 de novembro, teremos seis meses extras para superar a pandemia e ficar prontos para percorrer o Brasil com uma mensagem de saúde, coragem e superação de desafios.
Thiago Marques – Vem sendo bem complicado. Somos um projeto que depende da receita direta dos pilotos e patrocinadores da categoria.
Foi possível manter os patrocínios?
Daniel Kelemen – No olho do furacão, que foi alguns meses atrás, os patrocinadores estavam pensando em redução de despesas, de custos. Deixamos eles à vontade para que tomassem as decisões corporativas necessárias. Felizmente, até o momento, não perdemos nenhum patrocínio. Todos os nossos patrocinadores voltaram a falar conosco. Obviamente, eles são grandes parceiros e não tivemos nenhum tipo de problema.
Joaquim Monteiro – Sim, mantivemos nossos patrocinadores (Mitsubishi, Honda, Divino Fogão). No início deste ano contamos com a entrada da Sabesp e Pro Tork e, no último mês, fechamos com a Motul, como uma das patrocinadoras master do evento Sertões. Ela também assina a nossa categoria Self, que passa a ter o naming rights Self by Motul. Fechamos ainda com outras duas importantes empresas que entraram como apoio: a Can-Am e a SFI CHIIPS, que entrou este mês nomeando nossa categoria de Regularidade.
Thiago Marques – Não perdemos nenhum patrocínio. Todos os parceiros de longa data continuarão ao nosso lado.
Existe um cálculo do prejuízo causado pelas medidas de restrições e quarentena?
Daniel Kelemen – Não tenho esse cálculo ainda. Naturalmente, ele existe, como para todas as empresas e todos os negócios. Nós não conseguimos mensurar porque isso não acabou, não voltamos ainda a correr, então há um prejuízo que se acumula. O importante é que ele não compromete a categoria.
Joaquim Monteiro – Sabemos quanto deixamos de ganhar, mas não consideramos isso um prejuízo. Tivemos um grande aumento de produtividade e com isso descobrimos novas maneiras de buscar receitas. A conta final no nosso modo de ver é que a empresa ficou melhor do ponto de vista de trabalho e tem mais condições de recuperar eventuais perdas. Esse ano, a curiosidade de parte significativa do grid ser de pilotos estreantes. Acreditamos que pelo fato de as pessoas terem ficado muito tempo confinadas em casa, querem fazer uma grande aventura. Portanto, consideram o Sertões como essa oportunidade de viagem pelo Brasil (já que muitos evitarão fazer viagem internacional esse ano).
Thiago Marques – Difícil avaliar um possível prejuízo, mesmo porque ainda estamos vivendo essa fase. Penso que em setembro teremos um panorama melhor do que ficou pra trás. Não paramos nenhum dia até hoje, e minimizamos ao máximo a dispensa de nossos funcionários. Avaliamos que essa é a principal ferramenta da categoria.
Quando a sua categoria pretende iniciar a temporada? A tendência será de correr, mas com arquibancadas vazias?
Daniel Kelemen – Esperamos que comece o mais rápido possível. Nós representamos uma marca e respeitamos o posicionamento da Hyundai no mundo. Mas as coisas estão começando a retornar na Europa, nos EUA, na Ásia. Aqui na América do Sul também começaremos a ir para um ritmo mais normal. Vamos voltar, desde de seja algo seguro, factível, seguindo todos os protocolos de segurança. Se tiver que fazer corrida com arquibancadas vazias, vamos fazer. Há canais para divulgação, como as nossas redes sociais, nosso Youtube, além da transmissão na televisão. Por isso, não vejo problema de fazermos a primeira ou até a segunda prova com portões fechados. Isso será um processo de retorno à normalização. Vai demorar para a vida voltar a ser como ela era, mas a gente tem que retornar.
Joaquim Monteiro – A saúde sempre foi nossa prioridade. O protocolo de segurança do Sertões vai respeitar as normas e as melhores práticas.
Thiago Marques – Nossas tratativas estão voltadas para realizar o nosso primeiro evento ainda em junho. Em relação a restrição de arquibancadas e publico, podemos crer que não teremos nada aberto antes de setembro.
A sua categoria partirá para um campeonato concentrado no segundo semestre?
Daniel Kelemen – O grande desafio daqui para frente será: em vez de fazer um campeonato em nove meses, vamos fazê-lo em seis meses.
Joaquim Monteiro – Vamos retomar de 26 a 29/08 com o Rally do Jalapão, abrindo a temporada do Sertões Series. Em seguida teremos o Rally de São Paulo, no Vale do Ribeira de 1 a 3/10, e encerramos este ano com o Sertões, marcado para 7 a 15/11, largando da capital de SP, com chegada na Vila Preá (CE). Portanto, sim nossas competições estarão concentradas no segundo semestre.
Thiago Marques – Sem dúvida é uma grande possibilidade ter o campeonato concentrado no segundo semestre. Estamos tentando algo ainda em junho, mas sem qualquer confirmação até o momento.
Vai existir redução de custos? De qual tipo?
Daniel Kelemen – Vamos ter reduções de custos com pessoal, com estrutura e equipamentos. Até em virtude dos prejuízos causados, devemos tentar chegar a um equilíbrio financeiro. Quando se tem perdas, precisamos tirar de algum lugar, para que se possa seguir saudável. Um exemplo é que estávamos comprando um grande equipamento bem no período da pandemia e tivemos que cancelar. Isso eu enxergo como corte de custos.
Joaquim Monteiro – As reduções serão resultado das medidas de prevenção, como é o caso de construir arquibancadas, de montar eventos sem aglomeração. Vila Sertões será fechada para não haver aglomeração. A grande festa que costumamos fazer na largada, com prólogo e show, provavelmente não será possível neste ano em função da aglomeração de pessoas. A própria largada de São Paulo já significa uma redução de custo por parte das equipes, já que a maioria do grid é de São Paulo e não precisará se deslocar para outros estados (como era o caso quando a largada era em Goiânia ou Campo Grande no ano passado).
Thiago Marques – Não vai existir redução de custos, pois pretendemos entregar as mesmas nove etapas pré-estipuladas, além de todas ações midiáticas que envolvem os maiores investimentos, como transmissão ao vivo, entre outros.
Os pilotos e equipes estão conseguindo manter os patrocínios para poderem voltar ainda este ano? Ou os grids deverão ser menores?
Daniel Kelemen – Somos uma equipe única, mas os pilotos estão conseguindo se manter. Não tivemos nenhum cancelamento até agora, mas houve uma diminuição da procura. Acredito que se fosse antes da pandemia começaríamos o campeonato com todos os carros ocupados. Depois desse cenário, já acredito que não vamos ter todos os carros ocupados por pilotos no grid. Isso é uma regressão em virtude da projeção que tínhamos. Vamos conversar com todos os pilotos, entender o problema de cada um. E tentar fazer com que eles consigam continuem honrando com os seus compromissos, atendendo aos anseios dos seus patrocinadores.
Joaquim Monteiro – Com relação ao Sertões, já contamos com 90% do grid do Sertões 2019. Como as inscrições esse ano irão até outubro, existe a possibilidade de o grid ser até maior que do ano passado. Também criamos opções mais acessíveis aos competidores. A Categoria Amigos, válida para todas as modalidades – carros, motos e UTVs -, é uma excelente opção para quem quer dividir as despesas, revezando diariamente o papel de piloto e navegador. O Sertões Sprint é opção para quem quer participar, mas não tem tempo para fazer a prova toda ou para quem quer se preparar para encarar uma prova inteira. O participante terá uma versão reduzida, de largar e fazer os três primeiros dias. Também anunciamos recentemente uma parceria com a Mitsubishi, dando descontos expressivos para os pilotos que disputam a Mitsubishi Cup, além de darmos descontos para quem trouxer um novo entrante.
Thiago Marques – Resposta difícil para o momento. É claro que já temos desistências, mas não tenho duvidas de que quando lançarmos a primeira etapa, estes ou novos pilotos aparecerão.
Como será 2021? As expectativas são grandes? Como deverá ser o modelo para o próximo ano?
Daniel Kelemen – A Copa HB20 vem adquirindo o seu espaço dentro do automobilismo brasileiro. Claro que existem grandes categorias e nem temos como nos comparar. Mas estamos nos posicionando como uma boa categoria, uma boa opção. A H Racing tem trabalhado nesse sentido. Este ano o automobilismo foi muito prejudicado, a Fórmula 1 sequer começou ainda. Mas para 2021 temos grandes projetos que eram para 2020, e que estamos transferindo. Podem esperar porque em 2021 haverá muita novidade na Copa HB20.
Joaquim Monteiro – Seguimos com nossa missão de ser o maior rally do mundo em 2022, quando o Sertões completa 30 anos e o Brasil comemora o Bicentenário da Independência. Em 2019, apresentamos nosso projeto de quatro anos e trabalhamos firmemente com este propósito. Queremos colocar o Sertões em outro nível, que vai muito além de uma prova off-road, mas que sintetize o Brasil, a nossa pluralidade cultural, a grandeza da nossa pátria, a hospitalidade do nosso povo. E isso não se faz da noite para o dia, é um projeto de longo prazo. Mas o Sertões tem tudo para ser uma marca que o país se reconheça e se identifique.
Thiago Marques – Não perdemos as esperanças para o ano atual. Faremos um grande 2020, um pouco mais tarde do que o cronograma normal, e traçaremos as estratégias para 2021.
Qual o recado vocês gostariam de passar aos pilotos, ao público fã e ao meio do automobilismo?
Daniel Kelemen – Agora precisamos de muito discernimento, muita calma nas atitudes que vamos tomar. O automobilismo brasileiro necessita se unir cada vez mais. Eu vejo isso acontecendo neste momento delicado. Temos que procurar que as categorias, os promotores, todos se deem as mãos para que consigamos chegar no objetivo único, que é fazer corrida e entregar um espetáculo para o nosso público, com grandes disputas. Eu como apaixonado pelo automobilismo só tenho a dizer que o importante agora é a nossa união. Quanto mais unidos estivermos, mais sucesso a gente vai ter.
Joaquim Monteiro – Sertões sairá mais forte da pandemia. A experiência em superar desafios foi chave na quarentena. Estamos no curso e no ritmo certo para o projeto 2022. Se você quer viver uma aventura em 2020, vem com a gente na rota de São Paulo até o Preá (Região de Jericoacoara). Será fascinante!.
Thiago Marques – Vivemos um esporte sobre o qual o brasileiro é super apaixonado. Assim como o futebol, tenho certeza que o automobilismo voltará mais forte ainda. Há uma boa conversa entre todos nos promotores, e vamos tentar nos encaixar em termos de datas, da melhor forma possível.
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