Fernando Julianelli é, desde fevereiro, o novo CEO da Stock Car. Mas a sua história sempre foi ligada aos carros, fossem eles de corrida ou de rua. Esse profissional chegou à Vicar em outubro passado como VP Comercial e de Marketing. A Vicar organiza o campeonato de Stock Car e Stock Light, o maior do automobilismo brasileiro. Em fevereiro, Julianelli foi promovido a CEO da empresa, uma vez que o dirigente anterior, Carlos Col, optou por se tornar parte do conselho consultivo da Vicar, dedicando-se às áreas técnica e desportiva.
A mudança chega em uma hora desafiadora, no auge da pandemia. Tanto que a primeira etapa, programada para o final de março, já foi transferida para dia 25 de abril por motivos de segurança e prevenção.
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Fernando Julianelli está envolvido com o automobilismo desde os 12 anos. Na sua carreira, passou por agências de publicidade, por empresas do setor automotivo – foi diretor de marketing da Mitsubishi, por exemplo. Mas também já teve atividades como piloto, dono de equipe, promotor e organizador de grandes eventos como XGames e GT3. Vamos ver o que ele tem para nos contar sobre os seus planos para a Stock Car.
Como foi a sua entrada na Vicar?
Fernando Julianelli – O Carlos Col me convidou para vir cuidar do comercial e do marketing. Apesar de não ter parecido lógico ir trabalhar com eventos em meio a uma pandemia, eu pulei de cabeça. Tenho outros negócios como sócio da Cervejaria Praya e do aplicativo Raizs, de produtos naturais. Mas eles não me tomam tanto tempo assim e aceitei o desafio. A contrapartida é que eu tivesse carta branca para corrigir o que achava estar errado.
Por onde você começou essa “mexida?
Fernando Julianelli – A primeira coisa foi rever o contrato com a Globo. Não tínhamos a visibilidade que a categoria precisava. Cada temporada é um business pesado, com muitos compromissos! Uma etapa de final de semana tem um custo de produção de até R$ 2,5 milhões. Se não tivermos 24 ou 25 milhões de receita, não conseguimos entregar o campeonato da forma como ele é feito hoje. Só o custo de geração de imagem de televisão fica em R$ 350.000. Depois, temos todos os valores de CBA, cenografia, camarotes, segurança, banheiros, UTI móvel, helicóptero médico, cronometragem de primeira, equipe de resgate e extração, equipe de marketing. Então precisei dizer para a Globo que não queríamos mais, naquele formato.
Como foi a entrada da Stock na TV Bandeirantes?
Fernando Julianelli – Quando não houve acordo com a Globo, liguei para o Johnny Saad (presidente do grupo Bandeirantes de Comunicação). Eu tinha feito as corridas de Indy para ele. Já nos conhecíamos muito bem. Falei: “Eu tenho a nata do automobilismo brasileiro, como Felipe Massa, Rubens Barrichelo, Ricardo Zonta, Tony Kanaan, Nelsinho Piquet.” Veja que a Fórmula 1 não tem nenhum brasileiro, e nem vai ter. Porque ninguém no Brasil tem 40 ou 50 milhões de euros para correr na F1, isso em um carro que vai largar em último. Expliquei que existem cerca de 200 marcas no ecossistema da Stock. Há aquelas ligadas à Vicar, mas também as ligadas às equipes, como Eurofarma, Bardahl, Texaco, Ipiranga e por aí vai. Aí o Johnny Saad abraçou a ideia e montou uma superestrutura, que envolve até o jornalismo de cobertura da Band. Assinamos um longo contrato com eles.
Isso tudo aconteceu antes de a Fórmula 1 também ter ido para a Band?
Fernando Julianelli – Sim, a negociação com a Stock aconteceu antes de a Globo também perder a F1 para a Band. Para nossa surpresa, quando anunciamos a medida, o grupo Globo voltou a nos procurar, querendo ficar ao menos com o Pay TV. Falei que tudo bem, mas que as corridas passariam ao vivo na TV aberta da Band. Mesmo assim eles toparam fazer o negócio com o Sportv, alegando que a Stock é o principal campeonato e que eles não queriam fica totalmente de fora. Então ficamos com TV aberta, em um contrato que traz tranquilidade aos patrocinadores e pilotos. Temos também a TV paga com a Sportv. E ainda ganhamos a internet para nós, que antes também era exclusiva da Globo. Com isso, assinamos um acordo com o Motosport.com, que irá transmitir as nossas corridas para o mundo todo (com narração em inglês, espanhol e português, naturalmente). Mas sem exclusividade no Brasil. Aqui nós podemos distribuir a Stock Car digital onde quisermos como no nosso Youtube, no site da Band ou no da Sportv. O meu objetivo é que qualquer ser humano no planeta, com um celular na mão, tenha como assistir uma corrida da Stock Car.
Como estão as adesões dos pilotos e equipes?
Fernando Julianelli – Incrível que, no meio de uma pandemia, estamos largando com mais carros. Quando cheguei, no ano passado, estávamos com 24 carros. Este ano vamos largar com 32, que é o limite máximo. Isso só na categoria principal, que agora é chamada de Stock Car Pro Series, onde só correm profissionais. Na Light devem largar uns 20 carros. Todo o trabalho levou a que os pilotos e equipes conseguissem os seus patrocínios. Enfim, acho que foi uma bela reaquecida em um business de 42 anos.
Essa crise toda não afetou os patrocínios? Nem da Vicar, nem das equipes?
Fernando Julianelli – Não afetou. O que a Vicar ainda vai sofrer é de não ter a parte de venda de ingressos, pois no primeiro semestre não deveremos ter eventos abertos ao público ou camarotes liberados (onde os patrocinadores fazem os relacionamentos com os seus convidados). No segundo semestre deverá ser criado um tipo de passaporte de vacinas, exigido para entrar nos eventos, nos autódromos etc. Mas eu tenho o sentimento de que acontecerá um rebote imenso no mundo, quando a pandemia estiver controlada. Eu mesmo irei a todos os shows que eu puder; farei happy hour com os meus amigos toda a semana. A área de entretenimento será muito beneficiada.
O campeonato já teve a sua primeira etapa postergada, certo?
Fernando Julianelli – Sim, ontem anunciamos que será postergada. Já estava tudo pronto para a estreia em Goiânia, com todas as autorizações para realizar a corrida. Aí ficamos sabendo que não havia nenhum leito de UTI disponível na cidade. Imagina se acontece um acidente e dois pilotos batem e precisam de UTI? Um dos patrocinadores, que é a Prevent Senior, liberou dois aviões de UTI que ficariam no aeroporto de Goiânia. Mas podem surgir contágios e acontecer uma epidemia no circo da Stock, em um momento em que os demais eventos foram cancelados. Por que colocar a vida de pessoas em risco, se para nós, postergar em um mês não vai afetar o campeonato? Já tínhamos uma data de 1 de agosto em back-up com a Band para não perdemos nada em termos de exposição, caso não acontecesse a prova de 21 de março. Assim, a abertura do campeonato ficou para 25 de abril.
Quais marcas de automóveis correm hoje na Stock?
Fernando Julianelli – São Toyota, com oito carros, e Chevrolet com os demais – a GM é uma parceria de longa data. O business está desenhado para serem 32 carros, sendo oito para cada marca. Ou seja, esperamos vir a trabalhar com quatro marcas. Já temos uma montadora em vias de assinar para 2022, que seria a terceira. Não posso falar ainda sobre qual será, mas está tudo muito bem encaminhado, com o projeto praticamente pronto. E estamos fazendo um road show em todas as montadoras com carros na categoria do Chevrolet Cruze e do Toyota Corolla, que são os que correm atualmente.
Esses carros mudaram no ano passado, certo?
Fernando Julianelli – Sim, eles não são mais de fibra de vidro. É um monobloco do carro original. Então o fã chega no autódromo e reconhece que é um Cruze, que é um Corolla. Até por questões técnicas é melhor assim. Se acontecia de um carro raspar no outro, quando eram de fibra, começavam a desmontar. Agora, como é lata, só amassa. As disputas ficaram até mais bacanas para quem assiste pela televisão.
Como você se sente à frente da maior categoria de automobilismo nacional?
Fernando Julianelli – Nunca imaginei que teria essa oportunidade e fico muito feliz. Por outro lado, há muita responsabilidade, pois é um evento de 42 anos, com patrocinadores que já estão há muito tempo. Também há uma grande carga de responsabilidade porque várias famílias dependem do campeonato. Trata-se de um ecossistema muito importante. Temos que pensar muito antes de tomar qualquer decisão. Quando estávamos resolvendo se o campeonato seria ou não adiado, avaliamos todos os impactos que isso poderia causar, até o possível cancelamento de um patrocínio. Algumas equipes, por exemplo, só recebem do seu patrocinador após a realização da prova. Se a corrida não acontece, há o risco de ficarem sem fluxo de caixa. É bem complexo.
Você pensa em algum caminho para facilitar a entrada do pessoal vindo do kart?
Fernando Julianelli – O nosso trabalho tem um campo enorme para os pilotos que querem viver do automobilismo. No caso da Stock Light a gente identificou que existia um grande degrau de custos para chegar na Stock Car. Por isso que a gente anunciou uma premiação de R$ 1,2 milhão, entre todos os pacotes, para que o piloto campeão da Light possa subir para a categoria Pro Series. Sendo campeão, provavelmente manterá o seu patrocínio. E juntamente com a “bolsa”, isso permitirá que ele corra na categoria principal no ano seguinte. Mas temos pensando bastante em como vamos preencher o degrau entre o Kart e a Light. E já temos até um planejamento de como fazer isso no futuro, como, por exemplo, que ela esteja abrigada no dia do evento da Stock Car, para que não haja tantos custos de produção. Vamos trabalhar para isso.
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