Gastão Fráguas Filho, entre outras façanhas, foi Campeão Mundial de Kart FIA, em 1995. Nesta semana, tornou-se o homem da Confederação Brasileira de Automobilismo para a Comissão de Kart da CODASUR. O intuito dessa entidade é fortalecer o kart na América do Sul, o que também deverá refletir no crescimento da categoria no Brasil.
Em 2002, Gastão decidiu dar um novo rumo a sua carreira nas pistas, mas continuou no automobilismo como manager de dezenas de pilotos. Montou a empresa GP Management e, entre vários talentos, atendeu a Ruben Carrapatoso, também campeão mundial de kart em 1998. Atualmente, Gastão orienta pilotos como Matheus Ferreira (que corre de kart na Europa) e Caio Collet (que corre no Campeonato de Fórmula 3 da FIA). Além disso, está com a gestão da jovem Júlia Ayoub, que fez a seletiva da FIA com a Ferrari.
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Como a CODASUR ajuda o kart em toda a América do Sul? E como isso influência o kart no Brasil?
Gastão Fráguas Filho – Tudo foi muito recente. A nomeação aconteceu esta semana e só a partir de agora vou me inteirar dos procedimentos, para saber o que já está sendo feito. Hoje não consigo dar uma visão mais clara, pois está sendo uma transição. Mas, com certeza, teremos muitas ações para o kart, que vou contar muito em breve para os leitores da Racing.
Fale um pouco sobre a sua história. Foi campeão mundial de kart em 1995. O que essa experiência representou?
Gastão Fráguas Filho – Comecei a correr de kart no Brasil, aí tive a oportunidade de ir para a Europa, em 1995, onde as coisas aconteceram muito rápido. No primeiro grande campeonato que eu participei, a Copa do Mundo de Kart no Japão, eu já fui o terceiro colocado. E fui o segundo na primeira etapa do campeonato europeu de kart daquele ano. Como resultado do ano de 1995, fui vice-campeão europeu de kart FIA e, para fechar com chave de ouro, me sagrei Campeão Mundial de Kart FIA. Comecei a entrar em evidência. Foi uma época em que o Ayrton Senna tinha acabado de falecer (1994). Aí chega um brasileiro totalmente desconhecido e já ganha tantos pódios. Decidi continuar na categoria até 1997, depois fui para a Fórmula Renault. Acabei voltando ao Brasil com o estouro do câmbio, que causou certas dificuldades financeiras. Não tive condições de ficar por lá. Decidi fazer a Fórmula 3 Sul-americana, que para mim não foi um passo para trás. Na época, era uma categoria muito disputada e uma vitrine muito boa. Depois comecei a pensar para onde iria, porque os investimentos para correr no exterior estavam muito altos. Após muita reflexão, decidi parar.
Foi aí que você optou por ser um manager de pilotos?
Gastão Fráguas Filho – Sim, isso ocorreu em 2001. Encerrei a carreira como piloto, mas sabia que queria estar envolvido com o automobilismo. Resolvi usar toda a minha experiência, os meus relacionamentos, as minhas conexões, e comecei a ajudar jovens pilotos a trilhar o seu caminho. Percebi que faltou para a minha carreira ter um gestor profissional me conduzindo. Sem essa orientação, eu não soube aproveitar as oportunidades que haviam surgido. Naquela época, cheguei a ter uma entrada na equipe Williams F1. Mas não consegui dar sequencia, por inexperiência.
Quando você criou a sua empresa, a GP Management?
Gastão Fráguas Filho – Foi criada em 2002, com Ruben Carrapatoso como o primeiro cliente. Ele já tinha sido campeão mundial em 1998. Na verdade, juntamos forças: ele estava sem recursos e eu iniciando uma nova trajetória. Comecei a cuidar dele, conseguindo levá-lo para correr na Europa, de Fórmula Renault italiana e inglesa, Fórmula 3 e A1 GP. Desde então, cuidei de mais de 20 pilotos, com várias histórias e vários aprendizados.
Ainda há muita diferença técnica e de equipamento entre o kart europeu e o brasileiro?
Gastão Fráguas Filho – Ainda existe, sim. O kart no Brasil, a grosso modo, tem equipamentos diferentes, como motores e pneus. Nas categorias do campeonato europeu, do WSK, usam motores Ok e OkJ. Mas eles já estão chegando ao Brasil e a tendência é que exista uma paridade de equipamentos. Estamos buscando o que existe de mais próximo possível do que tem lá na Europa, até para que possamos evoluir.
Ao longo dos anos, na sua avaliação, o que vem acontecendo com o kart no Brasil?
Gastão Fráguas Filho – Na minha visão, o automobilismo no Brasil mudou como um todo. Quando a gente fala dos anos 70, 80, 90, até 2000, o Brasil sempre esteve no auge. Muitos pilotos brasileiros estiveram na F1 durante todos esses anos e isso gerou um interesse muito grande. Só que, depois, a falta desses ídolos refletiu na prática, resultando em anos parados no tempo. O Brasil foi perdendo força no automobilismo também por outros motivos. Tudo isso afetou as categorias de fórmula, que foram acabando. O kart foi ficando com a falta de “olhos”, de quem tinha o envolvimento direto. Tudo na vida precisa de um trabalho muito sério, focado, intenso, caso contrário não vai para a frente. A gente ainda está pagando o preço do que aconteceu nestes últimos anos: do desinteresse e da falta de seriedade que foram manchando o nosso esporte, que afastaram os patrocinadores. Isso é uma cascata. Para recuperar leva tempo.
A etapa do Mundial de Kart FIA no Brasil é importante como estímulo para o kart nacional?
Gastão Fráguas Filho – Com certeza é. Só que não adianta fazer um evento e depois parar. É preciso ter continuidade e trabalho. Com o que a CBA vem fazendo desde o presidente anterior, eu vejo algo bastante positivo. Essa nova gestão de agora está com excelentes ideias e projetos. Acredito muito na nova equipe, até porque se eu não acreditasse não me envolveria. Este é o momento de colocar boas soluções em prática e retomar o que já fomos um dia: um país referência no automobilismo mundial.
O Felipe Massa sendo o presidente da CIK FIA também é um alento para o nosso kart?
Gastão Fráguas Filho – Sim, esse é um momento que precisamos aproveitar. Ter o Campeonato Mundial de Kart FIA aqui é uma oportunidade única e aconteceu graças ao Felipe Massa ser o presidente da comissão internacional de kart (CIK FIA). Ele que fez todos os grandes esforços e a etapa acontecerá no Kartódromo Speedpark, em Birigui, SP. Imagine o trabalho que é trazer um campeonato mundial para o Brasil, hoje. É muito difícil. Só de termos obtido essa proeza, já é uma oportunidade única. Acredito que envolvendo toda a nova gestão da CBA, temos o momento certo para virar o jogo.
Com toda a sua experiência, que conselhos você dá ao kartista que está iniciando a carreira?
Gastão Fráguas Filho – O básico para ser vitorioso é querer seguir em frente. O piloto precisa ter essa vontade de querer, pra valer! Está chovendo? Pega o capacete e vai para a pista. Está com problema no kart? Fica até tarde da noite para conseguir a solução. O conselho é: sempre estar disposto a superar qualquer obstáculo para avançar na carreira. Porque o iniciante vai concorrer com outros pilotos de alto nível profissional, seja na Stock ou em categorias internacionais. Se ele quiser ter uma chance, a primeira coisa que precisa fazer é trabalhar e se dedicar.
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