<p>"Você não tem o menor compromisso com nada. Entra lá, curte e vai ver como é”. Foi o que me disse o Paulo Salustiano, vice-líder do Campeonato Brasileiro de Fórmula Truck, hoje pela manhã, quando, fruto de um desafio dele que teve anuência da chefe Danielle Navarro Félix, me vi dentro de um caminhão da categoria para algumas voltas pela pista de Cascavel.</p>
<p>Não foi exatamente um teste, ou um treino, ou coisa que os valha. Foi uma chance única e rara que tive, fruto da extrema camaradagem do Salu, de experimentar um pouquinho do que vivem e fazem os doidos que narro uma vez por mês nas transmissões das corridas da Truck pela Band. Hesitei um pouco, é verdade. Aquilo não é para o meu tamanho – e aqui não falo da pouca estatura. Mas quando é que eu teria essa chance de novo? Provavelmente nunca. Aceitei. “Quem guia bem um Truck guia bem qualquer coisa”, costuma dizer o Djalma Fogaça. Não guiei bem o Truck, mas pude atestar a impressão do Monstro, que já guiou praticamente de tudo que existe em pistas de corridas.</p>
<p>As cinco voltas que dei com o Volvo da ABF Motorsport hoje cedo em Cascavel me permitiram entender melhor o que esses doidos sempre manifestam sobre pilotar na categoria, mesmo sem ter feito um décimo do que eles fazem em treinos e corridas – eu não tinha, lembremos, qualquer compromisso que não fosse o de aproveitar ao máximo aqueles minutos no ambiente que é deles, dos pilotos. “Vai ver que é mais fácil do que parece”, avisou o Adalberto Jardim, ele próprio piloto da Truck há 11 temporadas. De fato. Cronômetro à parte, lidar com aquela cavalaria toda dando soco nas costas quando a turbina enche não pareceu aquele bicho todo de sete cabeças que eu imaginava. Pelo sim, pelo não, preferi não arriscar nenhuma gracinha. Freadas antecipadas, esse era meu lema. Teve uma hora que ousei dar acelerador antes da hora na saída do S do Saul, como fazemos com os carros, e o negócio quis atravessar.</p>
<p>Os pilotos da Truck contornam o Bacião – ah, o Bacião… – em sexta marcha. Salu me deixou à vontade para espetar uma quinta. Era para eu ter mais confiança, segundo ele. Na última volta, já tendo visto o sinal dele de que deveria entrar para o box, arrisquei descer em sexta. Como estava lento, não houve sustos maiores. Na saída do Bacião, alguma coisa no câmbio soltou. Consegui usar um pouquinho da quinta para subir a antiga reta oposta e desci o Retão a caminho dos boxes em ponto morto, como já me vi obrigado a fazer com o Escort da Paraguay Racing e com o Gol da Sensei-Sorbara, nesses dois casos por quebra de homocinética, e no último caso por causa da quebra quando era o líder da corrida. Voltando ao Truck de hoje cedo: algumas vezes, por vício, procurei a alavanca de câmbio para subir marcha na reta dos boxes. Não se sobe marcha num Truck na reta dos boxes. Entra em sexta, desce em sexta e pronto.</p>
<p>Tive essa experiência depois do próprio Salu ter dado algumas voltas com o caminhão a título de checagem. Depois dele, alguns pilotos testaram de verdade o caminhão. Joel Mendes Júnior, que já corre na Truck, Witold Phellip e João Cury, que têm a pretensão de integrar o grid em breve, e Daniel Kaefer, piloto da Honda na Copa Petrobras de Marcas, que tem atacado de comentarista da Truck nas transmissões de tevê – no caso dele, foi a segunda experiência prática com um caminhão; a primeira, no ano passado, aconteceu em Curitiba, com um Mercedes-Benz.</p>
<p>Osires Júnior, parceiro de microfones que perambulava por lá, deu-se o trabalho de cronometrar minhas voltas em seu iPhone. 1min31s59, 1min28s50, 1min28s94 e 1min29s88. Tempos de volta que não servem como referência para nada. Chegaria fácil, hoje mesmo, à casa de 1min25s, suponho, e dali por diante a dimensão seria outra. Mas nada de gracinhas. A volta mais rápida da corrida de ontem em Cascavel, cometida pelo Diogo Pachenki, veio em 1min20s61. Tomei 7s89 do Diogo. Achei foi pouco. Isso é o que menos importava.</p>
<p>Parei o caminhão nos boxes, desci, descrevi com alguns palavrões ao Salu como tinha sido a experiência. Preciso perder essa mania de usar palavrões. A Dani estava por lá ainda. Dei-lhe um beijo de agradecimento, foi o que me ocorreu para agradecer a ela. Foi, afinal, meu presente antecipado do Dia da Criança.</p>
Deixe seu Comentário