<p><img alt="Na Old Stock, a nova joia da coroa. Campeão novamente?" height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/foto13_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p>Caio Luiz Mattos de Queiroz Telles, ou simplesmente Caíto. Calmo, meticuloso, detalhista, gentil e atencioso. Esse é o perfil de um dos mais respeitados preparadores do automobilismo brasileiro, ainda em atuação mesmo depois de uma longa e respeitada carreira com mais de 50 anos.</p>
<p>Jan Balder narra, em seu livro “Nos Bastidores do Automobilismo Brasileiro” (Vol. 1, página 36), que pedalava 15 km de bicicleta desde o bairro de Santo Amaro para se juntar todas as tardes a uma turma de jovens no bairro do Pacaembu que gostava de ir a Interlagos para ver seus ídolos em ação disputando freadas nas curvas do circuito original com quase oito quilômetros de extensão, entre eles: Christian Heins, Chico Landi, Celso Lara Barberis, Camilo Christófaro, Ciro Caires, Antonio Versa, entre outros.</p>
<p>Dessa turma faziam parte alguns nomes que viriam a se tornar famosos nos poucos anos que se seguiram: “Môco”, ”Rato”, “Tigrão”, “Omelete”, “Águia”, “Totó”, Serginho “Auto Union” e o próprio Caíto. Eles seriam depois conhecidos como José Carlos Pace, Emerson e Wilsinho Fittipaldi, Jan Balder, Luis Evandro Pimenta de Campos, Antonio Carlos Canto Porto Filho, Sergio Arouche Pereira, entre outros.</p>
<p>Serginho ganhou o apelido por conta das quatro argolas que enfeitavam o sapato que usava, tendo se integrado ao automobilismo (como todo o restante da turma) com o seu trabalho como comissário de corridas na Federação de Automobilismo de São Paulo (FASP), atualmente no departamento de rali.</p>
<p>Os primos Caíto e Sérgio invariavelmente iam, de carona, nos DKW Vemag de competição dos primos mais velhos para vê-los correr: Joaquim “Cacaio” Carlos Mattos e seu tio, Mario César “Marinho” de Camargo Filho. Com essa influência e amizades, foi inevitável a Caíto começar a frequentar oficinas para saber mais sobre os bastidores das corridas. E a curiosidade acabou lhe levando à Rua Jesuíno Pascoal, esquina com a Rua Jaguaribe no bairro de Santa Cecília, mais precisamente onde havia uma verdadeira “hot shop”, a oficina denominada Torke, naquela altura liderada pelo piloto Luizinho Pereira Bueno.</p>
<p>Dali já saiam os motores de 1.0 litro que melhoravam muito a potência e o desempenho dos Renault Gordini de 850 cilindradas. Sem falarmos nos cárter de alumínio e nos tensores para tornar mais firmes a suspensão dos “pequenos grandes” Renault Gordini e 1093. Nessa mesma rua, conhecida como a Rua do Veneno, estavam também instaladas a Fulgor uma loja de autopeças de propriedade de Emílio Zambello e Ruggero Peruzzo – Emilio foi pai de Silvio Zambello também ex-piloto, empresário e promotor de corridas que continua a tradição do pai com a prova 500 Km de São Paulo, a oficina de carburadores do Comino e a loja de Silvano Pozzi (que fabricava os cárter de alumínio utilizados pela Torke).</p>
<p>A foto onde se vê Caíto ao lado do Gordini (de Pedro Victor De Lamare), com seu já tradicional número 84 pintado, foi tirada na Torke. Ali, Caíto conheceu Pedro Victor, piloto nascido em Santos (SP). E sem ambos saberem, nasceria entre eles uma longa parceria e de sucesso para ambos.</p>
<p><img alt="Há 50 anos, uma vitória emblemática com PeVe, Gigi, Ludovino, Toto Porto, Cesário Ramalho e Roger Resni." height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/berlinete_brasilia_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p>Já em 1966, estiveram juntos na prova 1.000 Quilômetros de Brasília, onde Pedro Victor compete com seu Willys Interlagos modelo Berlinette, ficando em primeiro na categoria e terceiro na geral.</p>
<p>Numa das fotos dessa reportagem é possível ver também em cima do carro: Gigi (Marlene), à época esposa de Pedro Victor, Cesário Ramalho, Caíto, Pedro Victor, Roger Resni, além de Ludovino Perez Junior e Antonio Carlos “Totó” Canto Porto Filho pilotos que dividiram a vitoriosa condução da Berlinette nessa prova.</p>
<p>Mas Caíto já conhecia aquela terra vermelha do planalto central. Havia estado lá antes com Sergio Cabeleira, outro grande e renomado preparador e seu DKW Vemag em outra prova disputada na novíssima capital federal. Logo depois, foi preparar carros da formula Vê 1.200, também para Pedro Victor.</p>
<p>Com Roberto Nabuco, ele fazia motores V8 para os famosos “Craker Box”, barcos de corridas e começava a se aprofundar nos big blocks e nos streight six, os motores Chevrolet de seis cilindros em linha que viriam a lhe trazer fama e o tornar ainda mais famoso e conhecido pelo seu trabalho. Pedro Victor se interessou pelos conhecimentos que Caíto vinha desenvolvendo e resolve então preparar um Opala, então ainda com motores 3800 para competir no que viria a ser a famosa e conhecida Divisão 3.</p>
<p><img alt="O engenheiro “Naka“ põe em prática sua habilidade e conhecimento na preparação dos seis cilindros: 3.800 cc, 4.100 cc e os imbatíveis 250/S." height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/47_jan_balder_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p>Corria o ano de 1975 quando um tal “engenheiro Naka” estava com sua nova oficina, à Rua Almeida Torres, na Aclimação. O citado “Engenheiro Naka” nada mais era que o próprio Caíto, apelidado assim pelo seu novo sócio, Washington Bezerra. O apelido dado por Washington era uma referência elogiosa ao mais prestigiado engenheiro da Fórmula 1 à época, Yoshio Nakamura, da Honda. Jan Balder e Fausto Dabur pilotavam o Opala 47 preparado pela equipe.</p>
<p>Um belo dia, Washington recebe na oficina a visita de um funcionário da GM que possuía um opala 4c, e que estava interessado em dar um upgrade no carro, modificando-o para 6c. Aconselhado por Washington e Caíto que o melhor, e principalmente, mais racional, seria vender o 4c. e comprar um 6c. de fábrica, este se interessou em saber mais sobre a equipe, e ao saber que estavam em busca de patrocínio, sem dizer mais palavras, afirmou algo como “Peraí que vou resolver este problema”, e saiu sem que ambos pudessem dizer algo.</p>
<p>Logo depois ressurge, e pergunta se poderiam ir a uma concessionária GM depois para uma reunião… Claro que podiam! Após esta reunião, surgia a tradicional Equipe Disbrasa Starvesa.</p>
<p>No ano seguinte, os dois Opalas da então recém-renomeada equipe foram pilotados por Edgar de Mello Filho, já veterano na condução dos Opalões, e Afonso Giaffone Jr., um piloto que começou sua carreira no kart e até então tinha pilotado Simca, Renault 1093, estreia na equipe a pilotagem dos Opalas. Era o início de um longo namoro com o modelo…</p>
<p>Nas 12 Horas de Goiânia a equipe alcança a vitória na Divisão 1, Turismo Classe C e terminam o campeonato Paulista daquele ano em segundo lugar.</p>
<p>A prova de Goiânia foi um marco também como divisora de águas no automobilismo nacional: foi a última prova com motores a gasolina. A partir de então, o combustível seria o álcool para todas as categorias.</p>
<p><strong>Uma história de sucessos</strong></p>
<p>Vindo de Santos, Pedro Victor já havia entregado a Caíto a preparação do kart “La Sereníssima”. Depois, como já contamos anteriormente, foram a Brasília com a Berlineta (Caíto como cronometrista e o carro preparado por Luizinho, Pozzi e Roger Resni na Torke).</p>
<p>Com o sucesso da Fórmula V 1200, Caíto constrói um carro para Pedro Victor e logo depois um Fórmula Ford (monopostos preparados com motor do Corcel). Com esse carro da F-Ford, Pedro Victor conquista o vice-campeonato de 1971.</p>
<p>Mas antes, em 1970, Pedro Victor havia criado uma Escola de Pilotagem. Caíto é convidado por Pedro Victor para cuidar dos carros da escola enquanto continua a cuidar dos carros pessoais com os quais Pedro Victor competia.</p>
<p>O acervo, aos cuidados de Caíto, contava então com seis modelos Fórmulas V usados pelos alunos da Escola, o Fórmula Ford, a Berlineta e, então, surge o Opala. Nessa época, Chico Landi, Aristides Bertuol e Wilsinho Fittipaldi haviam cada um, adquirido um Opala quatro portas e “aliviado” o carro para competição. Caíto identifica ali um bom futuro para o automobilismo e no segmento da preparação. Adquirem um carro a Pedro Victor. Ele se torna pioneiro a iniciar as modificações mecânicas, rapidamente ultrapassando seus três predecessores.</p>
<p>Na mesma época, 1970, Tony Bianco desenvolve seu protótipo Fúria, que rapidamente se tornaria um fora-de-série desejado e sucesso de vendas entre o público, com motor VW – e instalando um motor de JK estreia em Tarumã. Logo depois fabrica o Fúria BMW e então constrói o chassi n.3 para Caíto e Pedro Victor, que o equipam com motor Opala 4 cilindros.</p>
<p>Como o carro não conseguia fazer frente aos então imbatíveis Porsche da Divisão 4, foram à Argentina e adquiram um protótipo Trueno fabricados pelos hermanos. O carro fica forte, mas apresenta problemas de projeto de chassis, e é rapidamente abandonado.</p>
<p>O Chevrolet Opala quatro portas traz resultados. E com o lançamento do modelo cupê em 72, adquirem um modelo, abandonando o Opala de quatro portas, passando toda a mecânica para o novo monobloco.</p>
<p>Os protótipos Fúria e Trueno são então vendidos para possibilitar a aquisição do protótipo Avallone, um chassi Lola T120 com carroceria de fibra projetada e construída por Anísio Campos. Com motor Chevrolet que equipava os Opala de 6 cilindros, mais leve e esperto, andava na frente dos V8. Este carro ainda existe e está conservado por uma amigo de Caíto nos dias atuais.</p>
<p>Com o Avallone Chevrolet, Pedro Victor participa da Divisão 4 e da Copa Sudam (Campeonato Sul-Americano de Automobilismo). Por dois anos, o protótipo segue nas disputas na Argentina, e o Opala nos campeonatos nacionais. Logo, chega ao mercado o substituto do 3.800: o motor 4.100 e começa o seu desenvolvimento.</p>
<p>No meio de 1973, Pedro Victor segue para a Europa para competir na Inglaterra, e então Caíto vai trabalhar para Reynaldo Campello na Itacolomy, onde começa fazendo três carros: o de Campello, o de Edgar Mello Filho e o do argentino Norberto Januzzi.</p>
<p>Em 1975 viria a associação com Washington Bezerra, da qual já falamos anteriormente. Durante os dois anos seguintes, eles mantêm uma equipe onde passaram Jan Balder, Edgar de Mello Filho, Affonso Giaffone, Tite Catapani, Totó Porto, Chiquinho Lameirão e Lian Duarte.</p>
<p>Eles estreiam em Goiânia junto com o novo motor 250/S. Após breve pausa e já na Stock Car, preparou para o piloto paulista Zeca Salsicha um Opala, com o qual disputam dois campeonatos, e logo depois faz um carro para o piloto português Pedro Queiroz Pereira, o PeQuePê.</p>
<p>Após breve pausa em sua carreira no esporte, depois de fazer um Opala que vai correr, em 1982, duas provas do Torneio Grão Pará, no Circuito do Estoril, obtendo o melhor resultado entre os pilotos portugueses.</p>
<p>Um pouco antes, Caíto prepara um Chevrolet Chevette para o piloto Marcos Troncon em vista a disputa do Campeonato Brasileiro de Marcas e Pilotos, e já na década de 90, foi responsável pela preparação de um Opel da década de 60 para as provas de clássicos de competição.</p>
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