<p><strong>Texto de Venício Zambeli publicado na edição 59 da Revista RACING (janeiro de 2001). Adaptações por Rafael Ligeiro.</strong></p>
<p><img alt="Piquet precisou bater Mansell (e a própria equipe) para chegar ao tri" src="/wp-content/uploads/uploads/piquetnelson_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>
<p>Em 1987, a Williams sabia que não poderia repetir a história do ano anterior, quando, mesmo com o melhor carro da temporada, deixou o título de Pilotos escapar por conta de uma disputa interna entre seus dois pilotos: o inglês Nigel Mansell e o brasileiro Nelson Piquet. Mas como? A dupla permanecia a mesma e controlar os gênios fortes de ambos era o problema maior ao time.</p>
<p>Os pilotos estavam dispostos novamente a lutar ponto a ponto pelo Mundial de Pilotos daquele ano, enquanto eram rondados pelos perigos representados por Alain Prost, com McLaren TAG, e Ayrton Senna, com Lotus Honda, concorrentes que poderiam se beneficiar de outra briga interna, correr por fora e ficar com a conquista.</p>
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<p>Baseando-se com o que ocorrera no ano anterior – onde Mansell foi favorecido em detrimento do brasileiro, Piquet sabia desde o início de temporada que ele teria de correr sozinho dentro da escuderia. Para isso, usou de sua malícia e técnica para chegar ao tricampeonato, derrotando toda a tropa inglesa.</p>
<p>O título acabou sendo conquistado antes mesmo da última corrida, na Austrália. Com uma boa margem de vantagem nos pontos, Piquet comemorou o feito depois que Mansell se acidentou nos treinos ao Grande Prêmio do Japão, penúltima prova do ano. Com o seu rival fora daquela etapa, não havia mais como o brasileiro ser alcançado na pontuação.</p>
<p>Apesar de o britânico ter conquistado seis vitórias na temporada – o dobro de Piquet, Nigel foi menos constante, pontuando em nove corridas. Já o brasileiro, mesmo com menos primeiros lugares, pontuou em 12 das 16 corridas daquele ano. Além disso, em nada menos que seis oportunidades ele chegou na segunda colocação, algo que foi decisivo ao campeonato.</p>
<p><img alt="Mansell lidera o GP da França, em Paul Ricard, seguido por Piquet" src="/wp-content/uploads/uploads/mansell_piquet_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>
<p>A temporada 1987 começou no Brasil. Alain Prost estragou uma suposta dobradinha brasileira com Piquet e Senna, que ocorrera no ano anterior, vencendo a corrida. Mansell enfrentava um problema com o furo do pneu traseiro esquerdo. Piquet começava a construir o campeonato com um segundo posto.</p>
<p>Mas na corrida seguinte, o Grande Prêmio de San Marino, Nelson sofreu um dos piores acidentes em sua carreira na Fórmula 1. Depois do esvaziamento do pneu dianteiro traseiro, Piquet perdeu o controle do Williams FW11B na curva Tamburello e foi direito no muro, em um choque violento. A sorte do brasileiro foi ter conseguido fazer o carro rodar antes da batida, fazendo o bólido chocar-se de lado. Sentindo fortes dores no pescoço e nas costelas, sua ausência foi recomendada pelos médicos e acatada pela então bicampeão.</p>
<p>O acidente foi tão violento que muitos passaram a questionar se Nelson Piquet teria condições de voltar à F1 com o mesmo estilo arrojado de antes. Nigel Mansell aproveitou-se e venceu aquela corrida.</p>
<p><img alt="Mansell recebe troféu por uma de suas seis vitórias no ano, em Ímola" height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/mansell_imola_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p>Já na prova seguinte, disputada no veloz circuito de Spa-Francorchamps, Piquet dava sinais de que havia superado bem as consequências do acidente. Marcou o segundo tempo na classificação e abandonou enquanto liderava, por conta da quebra da válvula limitadora de pressão do turbo. Prost chegou à segunda vitória no ano.</p>
<p>Partindo para Mônaco, Senna conseguiu a primeira de suas seis vitórias naquela corrida, com Piquet em segundo e mais um abandono de Mansell. A dobradinha brasileira se repetiu nas ruas de Detroit, com o inglês chegando apenas em quinto lugar. Contudo, nas duas corridas seguintes, a reação do Red Five o colocou de volta à condição de postulante ao título. Na França e na Inglaterra, os dois pilotos da Williams disputaram diretamente a primeira colocação. Mansell venceu ambas, com Piquet em segundo.</p>
<p><img alt="Piquet e Senna cravaram quatro 1-2 no ano, um deles em Detroit" src="/wp-content/uploads/uploads/piquet_senna_detroit_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>
<p>A briga estava aberta e depois foi a vez de Piquet mostrar suas forças. Venceu as duas corridas seguintes com tranquilidade, enquanto seu companheiro de equipe abandonou na Alemanha e levou uma volta na Hungria.</p>
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<p><strong>Suspensão ativa</strong></p>
<p>No Grande Prêmio da Áustria, mais uma vez aconteceu uma disputa direita entre os comandados de Frank Williams. Mansell conseguiu mais um primeiro lugar, depois de assumir a ponta após um pit stop mais rápido que o de Piquet, segundo colocado. Entretanto, foi no GP da Itália que o brasileiro deu uma importante cartada para o título.</p>
<p>A Williams desenvolvia paralelamente ao campeonato o sistema de suspensão ativa. Antes da corrida de Monza, o piloto brasileiro fez uma intensa sessão de testes com a nova solução e conclui que estava pronta para ser usada nas corridas. Mesmo tendo sido contestado por Patrick Head, diretor técnico e sócio do time inglês, o Williams Honda número seis foi para a pista italiana utilizando o sistema.</p>
<p><img alt="Vitória em Monza foi um dos momentos mais importantes a Piquet no ano" height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/piquet_monza_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p>E não deu outra: Piquet deu um show, tirando todo o proveito da suspensão ativa, vencendo a prova. Mansell, usando a suspensão normal, terminou em terceiro lugar, atrás de Ayrton Senna, da Lotus, que também utilizava o componente (a Lotus foi o primeiro time a equipar seus carros com suspensão ativa) desde o início do ano.</p>
<p>A única corrida em que o foco das atenções não foi direcionado aos pilotos da Williams foi o GP de Portugal, em Estoril. Alain Prost conquistou sua 28ª vitória na carreira e superou o recorde da época, que pertencia a Jackie Stewart, com 27 primeiros lugares. Prost tornou-se o maior vencedor da F1 – marca que ampliaria para surpreendentes 51 vitórias, completadas em 1993.</p>
<p><img alt="Em Portugal, Prost chegou a 28 vitórias na F1, novo recorde à época" src="/wp-content/uploads/uploads/prost-portugal_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>
<p>A briga interna na Williams se intensificou durante as duas corridas seguintes, na Espanha e no México. Os resultados foram duas vitórias de Mansell, dando ao piloto novas chances de conquistar o campeonato. Para Piquet, bastava tentar administrar os pontos para conseguir chegar ao tri. Mas essa tarefa não era nada fácil, pois todo o time inglês parecia jogar contra os objetivos do ídolo do automobilismo brasileiro. Mas, nos treinos ao GP do Japão, em Suzuka, Nigel Mansell sofreu um acidente que o impediu de correr aquela corrida. Sua ausência garantiu o título de Piquet com uma prova de antecipação.</p>
<p>Mansell acabou ficando de fora também da última etapa da temporada, na Austrália. A Ferrari fechou o ano com chave de ouro, com duas vitórias de Gerhard Berger.</p>
<p>Piquet alcançou o tricampeonato com o gosto de derrotar não só Mansell – alguém que, segundo ele, gostava de “mulher feia – e a Williams, mas a Inglaterra inteira.</p>
<p>Estava escrita a primeira página dos tri brasileiros.</p>
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