<p><strong>Texto de Venício Zambeli publicado na edição 80 da Revista RACING (outubro de 2001). Adaptações por Rafael Ligeiro.</strong></p>
<p><img alt="Com grande regularidade, Gil de Ferran faturou bicampeonato da CART" height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/dnw01oc2845_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p>Gil de Ferran mais uma vez se coloca como o principal piloto brasileiro no automobilismo mundial: conquistou pela segunda vez consecutiva o título da Fórmula CART, utilizando muita inteligência e sendo muito regular durante 2001. Ele mesmo afirmou após a conquista que “pilotou como nunca” nessa temporada.</p>
<p>Diferente daqueles que pensam que a vitória é o mais importante na CART, Gil provou que chegar na zona de pontos é igualmente valioso.</p>
<p>A conquista aconteceu na penúltima etapa do campeonato, realizada em Surfers Paradise, Austrália. Até lá, o brasileiro havia vencido apenas duas das 19 corridas disputadas. Seu principal concorrente ao título, o sueco Kenny Brack, ganhou quatro no mesmo período. Acontece que De Ferran chegou aos seus inatingíveis 191 pontos com o quarto lugar na Austrália, devido a sua constância.</p>
<p>Foram 13 as corridas em que o paulista pontuou bem, além das duas vitórias.</p>
<p>Mas não se pode negar que o “Sprint” final do piloto bicampeão foi essencial. Os dois primeiros lugares aconteceram nas etapas de Corby, na Inglaterra, e na etapa seguinte, em Houston, nos Estados Unidos, já na última fase da competição. Foi depois dessas corridas que Gil assumiu a liderança do campeonato.</p>
<p>Um dos momentos decisivos e que mostrou a presença e a força do piloto brasileiro aconteceu em sua primeira vitória. A uma volta da bandeirada, De Ferran ocupava a segunda colocação na prova inglesa, atrás de Brack. Na última curva, o bicampeão realizou uma das manobras mais bonitas da temporada, passando o sueco por fora e vencendo a corrida. Naquele momento, ele mostrou a garra e a vontade que poderiam leva-lo ao bicampeonato.</p>
<p><img alt="Vitória em Corby consolidou Gil como um dos mais fortes candidatos ao título" src="/wp-content/uploads/uploads/gil2_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>
<p><strong>Penske</strong></p>
<p>O papel da equipe de Roger Penske na conquista do título foi fundamental. Mais uma vez a estrutura sólida do time Penske, que utilizou o pacote composto pelo chassi Reynard (que foi desenvolvido durante a própria temporada pela equipe) equipado por motor Honda, mostrou-se eficiente na conquista do título.</p>
<p>“Vocês não têm noção do que é trabalhar com Roger Penske”, disse o brasileiro, colocando o seu time em local de evidência na vitória. Por outro lado, Roger Penske não poupou elogios a seu piloto. “Com certeza ele é um dos competidores mais competentes que já conheci e por isso foi campeão novamente”, afirmou o dirigente.</p>
<p>Este título aumenta para nove as conquistas da Penske na CART. Além de 2001, o time também ficou com o título em 1979, 1981, 1982, 1983, 1985, 1988 e 1994.</p>
<p><img alt="Gil e Roger Penske (esq.) exibem troféu do bicampeonato, obtido na Austrália" src="/wp-content/uploads/uploads/gil1_620x467.jpg" style="margin: 0px auto; display: block; width: 620px; height: 467px;" /></p>
<p><strong>A corrida do título</strong></p>
<p>O segundo campeonato de Gil de Ferran colocou-o também como maior campeão do Brasil na categoria. Além do piloto, apenas Emerson Fittipaldi havia conquistado um campeonato na Fórmula CART, em 1989, para o país. E o título veio de forma pensada, assim como aconteceu todo o campeonato. De Ferran chegou à Austrália 26 pontos à frente de Brack, segundo colocado na tabela geral – e 38 em relação a Helio Castroneves, seu companheiro na Penske e que também tinha chances de chegar ao título.</p>
<p>Com essa boa vantagem, o piloto do carro Reynard/Honda número um precisava apenas administrar o resultado para sair de Surfers Paradise campeão. E foi o que aconteceu.</p>
<p>Desde a classificação, Gil mostrava-se bem preparado. Ele ocupava a primeira colocação no treino que definia o grid, quando, a um minuto do fim da tomada de tempo, Roberto Moreno surpreendeu e acabou marcando a pole position em sua 100ª corrida na CART. Porém o troco veio logo na largada para as 65 voltas. De Ferran assumiu a liderança, ultrapassando Moreno e já começou a abrir vantagem.</p>
<p><img alt="Roberto Moreno cravou a pole em sua prova de número 100 na CART" height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/moreno_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
<p>Ainda na primeira volta, aconteceu uma bandeira amarela. Casey Mears não conseguiu frear para fazer o contorno de uma chicane e bateu na barreira de pneus, interrompendo a pista. Alguns pilotos decidiram fazer uma parada nos boxes logo na terceira volta, ainda com a prova em bandeira amarela, para uma estratégia diferente.</p>
<p>Desde a relargada, De Ferran manteve-se à frente, seguido de Moreno, Cristiano da Matta, Paul Tracy, Dario Franchitti e Alex Tagliani. Castroneves e Brack, os demais concorrentes ao título, vinham respectivamente em 12º e 13º.</p>
<p>Voltas mais tarde, Castroneves tentou passar Patrick Carpentier, mas teve a passagem dificultada e precisou travar pneus, quase batendo no muro de uma chicane. Conseguiu segurar o carro e manteve a posição, com Brack ainda atrás.</p>
<p>Chegada a hora dos primeiros pit stops, De Ferran fez sua parada. Moreno foi assim para a primeira posição, mas fez também seu pit na volta seguinte e conseguiu ainda ficar à frente do compatriota da Penske.</p>
<p>A corrida continuava seu ritmo normal, até que outra bandeira amarela foi dada, por causa de uma batida de Franchitti. A bandeira verde voltou a tremular em seguida, com Moreno ainda em primeiro, seguido por Gil e Da Matta. Mais atrás, uma boa disputa era trava entre Brack e Castroneves, na disputa pela sétima colocação.</p>
<p>No segundo pit, muitos pilotos pararam e os líderes continuaram os mesmos. Mas Moreno, que liderava, começou a enfrentar um problema de câmbio e a diferença para Gil de Ferran caiu. O brasileiro da Penske foi para o seu pit enquanto Cristiano ultrapassava Roberto, assumindo a ponta da corrida.</p>
<p>De Ferran voltou atrás de Moreno – que abandonou depois – e ainda foi ultrapassado por Alex Tagliani e Paul Tracy. Naquele momento, ele já administrava a conquista do título, pois bastava terminar à frente de Brack, que vinha uma posição atrás.</p>
<p>Lá na frente, Da Matta mantinha o primeiro posto, com Michael Andretti em segundo, seguido por Tagliani. E o piloto mineiro seguiu assim até o fim da corrida, vencendo a terceira prova de sua carreira na CART. Gil de Ferran acabou em quarto, com Brack em quinto.</p>
<p>A festa, de fato, foi brasileira.</p>
<p><img alt="Em Surfers Paradise, Da Matta (centro) faturou sua terceira vitória na CART" height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/damatta_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>
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