O novo presidente da CBA, Giovanni Guerra, fala sobre a sua nova gestão, que ele acelera desde janeiro, quando assumiu o mandato de quatro anos. A sua profissão é dentista, mas ele também tem uma enorme paixão pelo automobilismo, com o qual sempre esteve ligado. Guerra foi presidente da Federação de Automobilismo do Estado do Maranhão por 20 anos. E desde 2015 representa o Brasil na Comissão Internacional de Kart da FIA.
Com pouco mais de dois meses no cargo, ele se apresenta como anapolino (Anápolis, GO) de nascimento e maranhense (Imperatriz, MA) de coração. Guerra revela para a RACING todas as ações que está fazendo, envolvendo o kart, as corridas regionais, a valorização do automobilismo do norte e nordeste, e a busca por categorias intermediárias que permitam ao piloto chegar à uma Stock Pro Series, principal modalidade aqui do Brasil. O seu sonho é que os pilotos não precisem mais sair do país para ir correr lá fora. E já está trabalhando forte para que o nosso automobilismo tenha as mesmas condições tecnológica, técnica e de disputa que os campeonatos do exterior, especialmente os europeus.
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Entenda quais são os planos do dirigente desta importante entidade, em entrevista dada para os jornalistas Isabel Reis e Venício Zambeli.
Conta para nós o que você anda agitando aí no automobilismo nacional?
Giovanni Guerra – Tenho uma novidade que acabou de acontecer e que já foi aprovada pela Stock Car, Copa Truck, Copa HB20 e Porsche Cup: pilotos com a cédula esportiva da CBA vão poder acessar o autódromo nos eventos da entidade. A minha ideia com isso é integrar o automobilismo. Um piloto do interior do Maranhão, por exemplo, poderá se sentir parte do automobilismo do Brasil. O conceito é: você, piloto, pertence a uma outra família que é a CBA. Para ir a qualquer uma dessas competições, basta se apresentar na Secretaria de Prova e entrar gratuitamente. Ele será destinado à uma arquibancada, poderá eventualmente ter acesso aos boxes. Cada categoria decide de que forma irá recebê-lo. E o piloto ainda poderá levar como convidado o seu mecânico ou alguém da equipe. O conceito é valorizar toda a equipe!
Você acha que a Turismo Nacional, agregada às provas da Stock, será uma porta importante de entrada?
Giovanni Guerra – Sim, uma porta muito importante. Eu fiz todo um trabalho de bastidor com minha equipe, fui atrás de um, atrás de outro, buscando dar dignidade ao piloto da Turismo. Falei com o Lincoln (Lincoln Oliveira, pai do piloto Enzo Bortoleto e presidente da Americanet, maior cotista do fundo United Partners, que comanda a Stock Car) que precisávamos dessa categoria porque o piloto sai do kart e necessita ir para o automóvel, para poder chegar à uma Stock Light. Então, ele fez a fusão da Turismo Nacional com o evento da Stock, resultado de um trabalho desportivo 100% CBA. O mais interessante é que o piloto do Turismo que corre na Paraíba ou em Pernambuco, por exemplo, terá um palco colado ao da Stock Car.
Onde você encontra energia para tantas solicitações?
Giovanni Guerra – Eu diria que a minha inspiração vem de Deus. Sou católico de ir à missa diariamente e ELE está permitindo que eu trabalhe mantendo a minha maneira de ser, com total transparência. Ainda não saiu nenhum carro para a pista e já fizemos um monte de coisas de bastidores nesta gestão, sempre envolvendo pessoas e comissões de peso, que querem trabalhar de verdade para o automobilismo crescer. Fizemos um campeonato de kart no Nordeste, com a mesma dignidade que um campeonato brasileiro e que terá três etapas, envolvendo nove estados do nordeste. Também decidimos ajudar as escolas de pilotagem, como a do Manzini, que forma de 15 a 20 pilotos por mês. Isso tem todo um processo com custos, que passa pela FASP para emissão de um certificado e aquele piloto passa a ser graduado. Pois, então, decidimos emitir esse certificado diretamente pela CBA, inclusive com a emissão da sua Cédula Desportiva, sem custo nenhum. E ainda vou escrever para esse piloto: seja bem-vindo à família CBA.
O que você está falando é de criar um networking de toda a comunidade do automobilismo?
Giovanni Guerra – Sim, exatamente. Esse é o intuito. Outra coisa que estávamos providenciando é ter um ônibus da CBA nos autódromos para que a nossa equipe de comissários tenha um espaço próprio, com boas condições de trabalho, sem ficar apenas na dependência da infraestrutura da organização do evento. E com a finalidade de também receber os nossos convidados, que podem ser até mesmo vocês, da Racing. Um espaço aberto para networking de todos os envolvidos no esporte. A ideia é adquirir ou alugar esse motor home.
Não se vira presidente de uma entidade como essa de repente. Como foi que tudo começou?
Giovanni Guerra – Há 21 anos o Binho Carcasci, com a Seletiva Petrobras, fez a primeira prova do nordeste. Para nós da região era como se fosse um campeonato mundial. Imagine a Petrobras chegando aqui dentro do kartódromo de Imperatriz, no Maranhão. A partir daí se iniciou uma parceria com o Binho que vem até hoje. Esse kartódromo agora é referência, um dos três homologados FIA no Brasil. Eu gosto das articulações, dos bastidores e faço muitas amizades. E foi assim que Deus colocou o Felipe Massa como presidente do Kart na FIA e percebemos que havia chegado a nossa vez. O campeonato mundial de Kart precisa ter uma etapa no Brasil. Todos os delegados votaram a favor e o campeonato vai acontecer este ano no Kartódromo Internacional de Birigui, no interior de São Paulo.
Como você enxerga esse processo de modernizar o nosso kart?
Giovanni Guerra – Estamos trabalhando para inverter o fluxo. Hoje o piloto brasileiro sai daqui e vai fazer a sua carreira na Europa. Eu quero que seja o oposto: que o piloto saia da Europa e venha correr aqui. Porque vamos ter os mesmos pneus, os mesmos chassis, os mesmos motores, enfim, os mesmos equipamentos competindo em kartódromos homologados dentro do padrão FIA. O Binho e a Comissão Nacional já estão trabalhando para termos os mesmos modus operande. O fato é que uma equipe sai de lá e paga sete vezes menos para correr aqui. Hoje, nós somos a terceira força do kart no mundo. Um campeonato de kart lá fora é disputado com uns 500 pilotos do mundo todo. O mesmo que um campeonato brasileiro que, em duas semanas, reúne 500 pilotos brasileiros. Por isso somos a “menina dos olhos do mundo” em relação ao kart. Não queremos de forma alguma dificultar para a indústria nacional, mas temos que abrir para a indústria mundial porque ela vai trazer o piloto de fora para cá.
Como a CBA enxerga fortalecer o Kart no Brasil?
Giovanni Guerra – Mudamos o campeonato brasileiro de kart para dezembro, que antes era disputado em julho. E a Copa Brasil, antes disputada em outubro, agora será em julho, como se fosse o Brasileiro. O Campeonato Brasileiro continuará tendo duas fases, mas a primeira só corre com motor F4, o que é praticamente um campeonato de todo o Brasil, mesmo. Envolvendo o interior do Maranhão, da Paraíba e por aí vai. Procuramos envolver os interiores do país abrindo oportunidades aos novos pilotos. Passa a ser um evento de acesso à categoria principal, com motor dois tempos. E a segunda fase correrá apenas com motor dois tempos. Com essa divisão entre os dois campeonatos, conseguimos espaço para abrir uma categoria de F4 Junior, que não existia.
Você está montando uma escada para a carreira do piloto, desde o kart. É isso?
Giovanni Guerra – Sim, é isso mesmo. Com o Felipe Massa lá na CIK FIA, estamos trabalhando na criação do “FIA Kart”, que é o kart ligado diretamente à FIA, sem naturalmente desmanchar a comissão internacional de kart. Vou detalhar o meu pensamento: os pilotos que participam de um campeonato mundial devem ser vistos como profissionais e vão atrás de pontos na carteira, rumo à Superlicença. Então, os campeões mundiais de Kart FIA pontuarão em suas modalidades. Imagine um campeão de uma categoria Júnior aqui no Brasil, por exemplo, receber seus primeiros pontos com 12 anos. Imagine a motivação pelo reconhecimento da entidade. É o kartismo definitivamente inserido e reconhecido pela FIA como, de fato, ser o início da carreira. Recentemente vimos os pilotos Pietro Fittipaldi e o Sette Câmara, por exemplo, correndo atrás de meio ponto, um ponto, para poder somar e chegar na Superlicença. Se temos um campeonato CIK FIA aqui ou em qualquer outro lugar do mundo, que é disputado em um único fim de semana e ele dá pontos, imagine que pilotos da F4, F3, da F2 vão retroagir (no bom sentido) para correr de kart aqui, prestigiando o nosso campeonato por conta do ponto que ele pode ganhar. Com isso, podemos baixar a idade para correr de Fórmula com 14 anos porque não vai existir mais kart e Fórmula: será todo mundo misturado. Vamos prestigiar o kart, elevar o nível dele.
Será feito um trabalho forte para o automobilismo no Norte e Nordeste?
Giovanni Guerra – Vamos prestigiar essas regiões, sim. Neste momento estamos preparando um campeonato com três etapas no Nordeste: Sergipe, Ceará e depois no Paladino. Estamos nos preparando para levar o ônibus da CBA para lá, todos os comissários etc. Uma ótima infraestrutura. Antes da final do Campeonato do Nordeste, faremos a final de um outro campeonato nacional que estamos reeditando, que é o de Kart indoor. Ele envolverá os empresários e pilotos da modalidade e utilizará a mesma pista, dias antes, toda arrumada.
Tem muitas ações importantes acontecendo já. E para o próximo ano?
Giovanni Guerra – A FIA tem um programa, o Motorsports Games, e nós vamos participar dele. São jogos olímpicos de Motorsports. A FIA utilizou o mesmo padrão de uma olimpíada, mas no lugar das modalidades olímpicas estão as modalidades do automobilismo. Envolve Kart F4, GT3, TCR Rali, Digital Motorsport, Drift, e outros, formando 18 categorias no total. Eu elegi o Maurício Slaviero (promotor da TCR-Sul Americana, entre outras atividades) como nosso chefe de delegação. Além disso, tem a Bia Figueiredo como a nossa representante feminina, entre outros participantes. No próximo ano, vamos fazer uma série de ações que gerem caixa, para poder convocar os pilotos brasileiros a participar das Olimpíadas de Motorsports da FIA. Isso será uma honra para quem for chamado, pois estará defendendo as cores da bandeira do Brasil.
Muita coisa acontecendo. Quer finalizar com mais alguma boa notícia?
Giovanni Guerra – Queria falar sobre o Academy Trophy, que é o kart da FIA, a única modalidade que a entidade “coloca o dedo”! Trata-se de um campeonato mundial de kart disputado junto com as categorias KZ e KZ2. Na verdade, são dois campeonatos mundiais CIK FIA o outro é o da Categoria Ok e Ok Jr, o mesmo que será disputado aqui em Birigui. No Academy tudo é igual: motor, macacão, chassis, e cada país elege um piloto e manda para disputar. Desde 2012 temos pilotos brasileiros lá. O primeiro que eu levei foi o Pedro Piquet. A partir daí o Brasil foi um dos cinco países que levaram dois pilotos para o campeonato, ate 2018. Atualmente o sucesso é tão grande que faltam vagas para tantos candidatos. Também vamos fazer um campeonato de Endurance de 500 Milhas no Brasil, em duas ou três etapas durante o ano. E eu quero levar o time campeão desse campeonato para as 24 Horas de Le Mans. Ou seja, networking, muito networking!
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