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A Cascavel de Ouro e eu

7 Minutos de leitura

  • Publicado: 26/10/2016
  • Atualizado: 27/03/2019 às 9:38
  • Por: Racing

<p><img alt="Luc Monteiro teve como companheiros Paulo Salustiano e Leandro Romera. (Foto: divulgação)" height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/cascavel_de_ouro_1_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>

<p>Foi uma corrida de números maiúsculos e muitos recordes. Eles, os números, dão parâmetros infinitos, uns mais úteis que os outros. A 30ª Cascavel de Ouro reuniu 100 pilotos – número redondo! – de nove estados brasileiros e mais o Distrito Federal, que entre treinos e corridas completaram 10.214 voltas, ou 31.316,9 quilômetros, mais que três quartos de uma volta na Terra pela Linha do Equador. Transmissão ao vivo pelo Fox Sports 2, o que foi uma conquista inédita do evento. Novos nomes na galeria dos vencedores, Odair dos Santos e Thiago Klein, que além do troféu com a serpente de ouro maciço e do cheque de 20 mil dinheiros receberam como prêmio uma participação pelo Team Ginetta no Fara USA em Homestead e os custos técnicos para uma corrida na Sprint Race Brasil. Não é pouca coisa.<br />
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Mas o que tinha para ser dito sobre a Cascavel de Ouro já foi dito por quem é do ramo – aliás, destaque-se a presença da imprensa no autódromo durante o fim de semana, que vários colegas observaram ter sido bem mais marcante que em etapas de importantes campeonatos nacionais. Eu poderia discorrer laudas e mais laudas sobre os atributos do evento, do que deu certo e também do que poderia ter sido melhor, sobre tudo que ouvi de muita gente no domingo e depois disso também, sobretudo do que ouvi de velhos e novos amigos que vieram de longe para correr a prova, todos maravilhados com o formato da disputa, com a hospitalidade da festeira comunidade automobilística de Cascavel. Todo mundo volta em 2017, e vem muito mais gente. Podem me cobrar daqui a um ano: teremos mais de 65 carros empilhados nos boxes do autódromo disputando as 50 vagas do limite do nosso grid.<br />
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Sou egoísta demais para falar dos outros. Vou falar é de mim. Pela primeira vez, tomei parte de uma Cascavel de Ouro. Estando dentro da pista, no caso. Já havia estado em sete edições da corrida, normalmente cobrindo para o jornal onde trabalhava, em um dos casos auxiliando o Vanderlei Luiz Ratto na narração da transmissão ao vivo pela TV Tarobá – o Ratto, já há vários anos, está na CATVE, onde inclusive narrou as três últimas edições da corrida. Essa foi, portanto, minha oitava Cascavel de Ouro. A primeira como piloto. Tive a oportunidade de fazer parte desse momento histórico com um carro cedido pelo Edson Massaro e pelo chefe de equipe da Speed Car, Cláudio Deitos. Meus parceiros são pilotos de tarimba: Leandro Romera e Paulo Salustiano aceitaram a arriscada missão de dividir o carro comigo em treinos e corrida.<br />
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Em se tratando de mim, não poderia ser um fim de semana normal. Jamais imaginei participar de uma Cascavel de Ouro. Recusei, inclusive, os três ou quatro convites que recebi no ano passado, depois de ter feito uma corridinha no Metropolitano de Turismo 1600 com um Escort da Paraguay Racing. As coisas caminharam para isso em 2016 e a primeira necessidade era me preparar bem. O que esbarrou na minha agenda sempre doida: na quinta-feira, dia em que parte das equipes estava na pista fazendo treinos particulares para aprendizado e acerto dos carros, tomei um voo e me mandei para Goiânia para narrar mais uma etapa do Porsche GT3 Cup. Só saí de lá no sábado à noitinha, quando o grid aqui em Cascavel já estava definido. Foi uma operação de guerra que, obra e graça da parceria de sempre do irmãozinho de coração Beto Trento, me permitiu chegar em casa às 3h30 do domingo, horas antes do warm up.<br />
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Até então acompanhei o trabalho da equipe pelos contatos telefônicos diários que mantive com o Salu e o Romera. Teria os 20 minutos do treino de aquecimento do domingo para umas voltas com o carro. Os dois tinham sugerido algumas mudanças ao Cláudio Deitos. Não tínhamos, na equipe, qualquer tipo de saia-justa para lidar com minha notória deficiência técnica em relação a eles dois. Romera me pediu para que cedesse o já reservado tempo do warm up ao Salu, para que testasse as mudanças feitas. Concordei. Deitos não achou boa ideia eu só entrar no carro com a corrida já em andamento. Dividimos o warm up, algo como dez minutos para cada um. Dei lá minhas voltinhas, que serviram, e até agora não tinha dito isso a ninguém, para me demover da ideia de deixar que o Romera e o Salu corressem sozinhos.<br />
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Salu largou. Era 33º no grid. Chegou a figurar em 19º quando chegou a hora do primeiro pit stop. Por instrução do Romera, que era o nosso estrategista, eu estava pronto para assumir o carro no segundo stint da corrida. Adolpho Rossi, do Team Ginetta, acompanhava toda aquela movimentação lá do nosso box. Experiente que é em corridas de longa duração, me chamou de canto, passou algumas orientações bastante úteis. Muito camarada, sempre, o Adolpho. Eu queria pilotar lá pelo quarto ou quinto dos seis turnos, quando as coisas já estivessem mais acomodadas na pista. O Romera decidiu que eu entraria antes. As decisões dele, para nós, eram mandamentos quase bíblicos e pronto. Salu pediu apenas uma garrafinha d’água e seguiu no carro.<br />
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Foi quando veio o primeiro dos percalços do Gol #88. A corrida estava sob intervenção do safety car. Por regulamento, quem saísse dos boxes naquele exato momento teria de esperar no fim do pit lane até que o pelotão da pista passasse pela saída de boxes. Nessa, perdemos uma volta em relação a todo mundo. Bem, vida que segue. Ainda havia mais de três horas de corrida pela frente. O carro reagia bem melhor no domingo que nos treinos livres e, mesmo sabendo que meu ritmo seria menos eficiente que o dos meus parceiros, tínhamos a expectativa real de terminar a peleia entre os dez que iriam ao pódio. A volta do Salu aos boxes aconteceu antes do previsto. Um problema com o tanque de combustível, que também afetou a bomba. O carro ficou parado por 27 minutos. Foi-se ali nossa esperança de um trofeuzinho.<br />
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Com tudo reparado, o carro voltou à pista, comigo a bordo. Sabia que meu filho e minha namorada estavam no receptivo da Speed Car lá junto ao S do Saul no início da corrida, torci para que ainda estivessem lá. Eles me reconheceriam facilmente pelo capacete, um presente do Eduardo Homem de Mello que, como todos de seu acervo, imita a pintura usada por François Cevert. Dá para distinguir da lua aquela pintura listrada. Achei os dois pertinho do alambrado durante meu primeiro safety car. Acenei pela abertura do acrílico da porta e vi de longe que aquilo deixou o Juninho feliz. Fiz uma parada no box porque a aceleração do carro travou na descida do Bacião, bem no instante em que reduzi de quinta para quarta marcha. Rodar no Bacião dá saudade de casa, como costumo dizer na narração das corridas.<br />
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Bem, mesmo sob aquela situação consegui chegar ao box. Havia quebrado o eixo da TBI. Deitos, Everaldo Bueno e os meninos da equipe trocaram a peça rapidamente e voltei para a corrida. Pelo rádio, que era uma novidade completa para mim, ia descrevendo ao Romera como estava sendo a experiência. Tive a pachorra de acionar o PTT em pleno Bacião para contar a ele que havia acabado de fazer uma ultrapassagem. “Do caralho, mano!”, ele me respondeu. Quando abriu a terceira janela de reabastecimento, ele me avisou que deveria entrar na primeira oportunidade que tivesse. “Vou agora”, respondi. “Só que fico na pista”. Para quem queria cumprir apenas o quinto e penúltimo trecho da corrida, eu estava bem saidinho. “É isso aí”, ele condescendeu. Caberia ao Romera levar o carro nos dois últimos stints.<br />
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Reabastecimento feito, voltei à pista e dei mais algumas voltas, até enfrentar um problema com a embreagem. Encostei de novo. Ouvi o Deitos dizendo a alguém que era porque deixo o pé esquerdo repousando no pedal da embreagem. Disse-lhe depois que não, porque meu “descanso” do pé é a elevação da carroceria para o paralama dianteiro esquerda. Fiquei parado por uns instantes, eles mexeram num monte de coisas e o Deitos me mandou voltar à pista. Ótimo, pensei, o Romera não vai ficar sem se divertir. Mas ficou. Tentei voltar e o carro não saiu do lugar. O Cláudio passou a mão na frente do pescoço, nosso sinal de que a brincadeira acabou por ali. Completamos 65 voltas. Foram 44 do Salu e 21 minhas. E nenhuma do Romera, que ainda assim saiu de Cascavel com o nome na lista dos visitantes que acharam a corrida sensacional e já garantem presença na de 2017, que ainda nem tem data marcada.<br />
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Ver uma Cascavel de Ouro de dentro, o que inclui o tempo nos boxes atento ao trabalho do Salu, foi uma experiência divertidíssima. Em se tratando de corridas, até mesmo quebras e rodadas – sim, tive uma outra rodada na entrada do Retão, e nessa rodei de bobo, mesmo – fazem parte do pacote da diversão. No fim, fiquei feliz pelo Odair e pelo Thiago, dois grandes parceiros, que não fizeram a menor questão de esconder quão emocionados ficaram depois de inscrever seus nomes na galeria de vencedores da prova. Agora são 33 os pilotos que ganharam a Cascavel de Ouro pelo menos uma vez. O fim da mais maiúscula de todas as 30 edições já realizadas já aguçou a expectativa de todo mundo pela do ano que vem. Será, dentre vários outros eventos estatísticos, a edição dos 50 anos da corrida. Tudo que aconteceu desde que Bruno Castilho e Rodolfo Scherner levaram um Simca Chambord à vitória em 1967 daria (ou dará…) um belo livro. Em algum lugar vai aparecer o nome Luc Monteiro. Vou achar o máximo.</p>

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