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Capacete de ouro
Entrevista com Wilsinho Fittipaldi: 50 anos da equipe brasileira de F1

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  • Publicado: 02/11/2023
  • Atualizado: 23/02/2024 às 11:25
  • Por: Isabel Reis

Wilson Fittipaldi Jr foi um dos pilotos mais completos do automobilismo brasileiro, além de um grande empreendedor. Quem nos dias de hoje imaginaria criar do nada uma equipe de Fórmula 1? Sair atrás de patrocínio, reunir um ótimo técnico, chamar pilotos muito talentosos e ir enfrentar uma Ferrari, uma McLaren, nas principais pistas do mundo? E foi assim que aconteceu. A estreia da Escuderia Fittipaldi foi no GP da Argentina de 1975 e a última participação ocorreu no Grande Prêmio de Las Vegas, em 1982. Passaram pela equipe grandes nomes como o próprio Wilsinho, Emerson Fittipaldi, Ingo Hoffmann, Alex Dias Ribeiro, Chico Serra, Keke Rosberg. Foram 104 largadas em Grandes Prêmios mundiais.

Wilsinho foi várias vezes homenageado pelo prêmio Capacete de Ouro. Levou troféus para casa pela sua história e contribuição ao automobilismo. Ganhou também um Capacete dourado feito pelo estúdio de Alan Mosca. As peças estão em destaque na sua coleção.

Wilsinho recebendo o troféu Capacete de Ouro das mãos de Paulo Loko Figueiredo – Foto Revista Racing

Ele dirigiu carros de corrida de todos os tipos, passando pelas competições de Turismo e Fórmula da década de 1960, chegando à Fórmula 1 na década de 1970 e correndo em grandes categorias e provas consagradas. Além disso, testou carros no automobilismo mais moderno, como na Stock Car, Porsche, Mil Milhas e Fórmula Vee atual.

Agora, próximo ao GP do Brasil de 2023, em Interlagos, conseguimos fazer este bate-papo com Wilson Fittipaldi Jr. Uma honra para a Revista Racing. Veja o vídeo e a entrevista a seguir:

De todas as categorias e provas que você correu, qual a que mais gostou?

Wilsinho – O que eu mais gostei foi correr uma Mil Milhas Brasileiras com o meu filho Christian. Foi ótimo e deu tão certo que nós vencemos a corrida. Também corri com o meu irmão Emerson em uma prova de 4 horas de Porsche, em Interlagos. Chegamos acho que em quinto ou sexto lugar. Essa não foi tão boa como com a do Christian.

Wilson e o filho Christian: juntos e vencendo a Mil Milhas – Foto divulgação

Não foi tão boa porque vocês fazem de tudo para ganhar, né?

Wilsinho – Sim, queremos ganhar. Mas o automobilismo é um esporte muito ingrato. De certa forma, ele te aniquila de vez em quando. E o motivo pode ser uma pecinha que quebrou e que custa R$ 20,00, por exemplo.  Em compensação, quando conseguimos um bom resultado, sempre é ótimo.

Já faz 50 anos que a sua Escuderia Fittipaldi foi criada. Como você vê esse período tão dinâmico e criativo da sua história?

Wilsinho – Eu vejo com muito orgulho o que foi feito. Nós buscamos o máximo para ter um ótimo resultado. E esse resultado veio quando o Emerson guiou o nosso carro. Ele chegou em segundo lugar no GP do Rio de Janeiro. Um resultado excepcional. Depois ele largou em sexto lugar em Monte Carlo. Eu já corri lá e sei o quanto é difícil fazer 310 km/h naquela pista. Você está com o carro no limite máximo. Quando se consegue um resultado isso é muito bom, devido ao esforço todo. E ele largou e chegou em sexto lugar e foi maravilhoso para todos que estavam lá.

Wilsinho e Emerson: ambos correram pela Escuderia Fittipaldi – Foto divulgação

Imagino que tenha sido um orgulho para vocês. Você acha que existiria possibilidade nos dias de hoje de se criar uma equipe brasileira de F1?

Wilsinho – Acho que hoje em dia não existe nenhuma chance, devido ao custo da F1. Naquela época com 3 milhões de dólares se montava uma boa equipe. Hoje a coisa foi para 450 ou 500 milhões de dólares, por temporada. Simplesmente impossível de acontecer.

Vocês chegaram a correr 104 GPs. Foi uma experiência e tanto.

Wilsinho – Sim, e no segundo ano, não tivemos muito resultado. Mas no final o Keke Rosberg chegou em terceiro no Grande Prêmio da Argentina, algo muito bom para nós. Tem muita gente que me critica muitas vezes, dizendo “porque isso ou porque aquilo”, mas também tem muita gente que gosta. Eu sabia o que estava fazendo. Naqueles anos chegamos à frente da McLaren e da Ferrari. Imagina que coisa de outro mundo!

Copersucar, o primeiro e único carro brasileiro a disputar corridas de Fórmula 1 – Foto divulgação

Foi um momento histórico esse da equipe Fittipaldi, que também manteve em relevância os pilotos brasileiros que correram lá.

Wilsinho – Com certeza. Mas tivemos um pouco de crítica por conta da imprensa não especializada. Chegaram a um ponto de fazerem piadinhas em jornais com a nossa imagem, usando o carro, usando o Emerson. Nunca entendemos porque isso, se estávamos indo tão bem. Até no Grande Prêmio do Canadá, o Emerson chegou em segundo lugar pilotando o nosso carro. O Piquet acabou vencendo a prova.

Por que encerrou a equipe? Faltou patrocínio?

Wilsinho – Sim, acabou o patrocínio e não conseguimos mais nada. Porque se tivéssemos conseguido uma parte do valor total, o restante a gente acharia. Mas não do jeito que aconteceu. Achei que no primeiro e segundo ano fizemos um progresso muito grande na equipe. Se tivéssemos mais tempo, teríamos alcançado o nosso objetivo. Uma equipe, em primeiro lugar, precisa organizar as suas bases financeiras. Mas tem o resto também: técnico, pilotos.

Os dois irmãos Fittipaldi e o amigo Paulo Loko – Foto divulgação

Hoje em dia, quando você vê esses jovens pilotos correndo, que conselho você daria para eles. Que conselho você deu para o seu filho, Christian, para que ele seguisse a carreira da melhor forma possível?

Wilsinho – Quando se larga em um Grande Prêmio temos que tentar andar muito bem até o quinto lugar, mais ou menos. Dai para frente eu diria que “senta a bota e não pare mais”. Nesse instante está a cabeça do piloto e sua obsessão por conseguir o resultado. Desde que o carro ande bem, ele tem que ir atrás do resultado.

Wilsinho e o grande amigo Bird Clemente – Foto divulgação

Com toda essa sua experiência de vida, que conselho você daria para a nova geração que vêm por aí?

Wilsinho – Acho que hoje o jovem tem que se esforçar mesmo é na Fórmula 2. Foi a Fórmula 3 que confundiu um pouco as coisas, pois não teve até hoje um ótimo resultado como evento. Então você pega a Fórmula 2, que é o caminho certo para chegar à Fórmula 1, e você tem certeza que com aquelas provas que fez, aqueles resultados que obteve, está apto para ganhar com aquele carro de Fórmula 2. Mas até conseguir chegar nessa etapa, é um caminho muito difícil. É uma pressão total. Tem que acordar pela manhã, ir para a ginástica, volta, almoça, depois vai fazer essa rotina todo o dia. Fisicamente você precisa saber que está ótimo. E será dentro do carro que irá saber o quanto vai andar. O piloto precisa estar no seu máximo para lidar com um carro de Fórmula 2.

Rita Reis Fittipaldi, a esposa e a grande companheira de Wilsinho – Foto divulgação

Você tem uma história maravilhosa, já esteve conosco no nosso prêmio Capacete de Ouro, a Racing já prestou várias homenagens para você, já entregou troféus e um Capacete Dourado feito pelo estúdio do Alan Mosca. Um orgulho para o nosso país.

Wilsinho – Obrigado pela chance que você me deu de falar aqui.

 

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