O Brasil caminha para o retorno do automobilismo, ao que tudo indica. As perdas humanas ainda são gravíssimas e a pandemia parece nem ter chegado ao seu auge no nosso país. Mas vários setores da economia estão voltando aos poucos, com restrições, respeitando os procedimentos de segurança e higiene exigidos pelo poder público e indicados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
A economia sofreu com a pandemia e os três meses de quarentena. No automobilismo, muitos pilotos perderam os patrocínios e estão tentando ver como seguir, quando as competições voltarem. Para os dirigentes também deve estar bem complicado segurar os patrocinadores e tentar reduzir os custos dos eventos para um possível retorno.
Com esse cenário de abertura de vários segmentos do mercado, entrevistei Waldner Bernardo, presidente da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo). Afinal, vários movimentos estão acontecendo no mundo, neste momento, como o retorno da Fórmula 1 em módulo condensado na Europa. Ou a volta da Fórmula Indy, como mostramos este fim de semana aqui na Racing, no Guia da Indy: saiba onde assistir a temporada 2020.
E como já publicamos na Racing, também há a intenção da Stock Car voltar em julho, com os portões dos autódromos fechados. Em conversas não oficiais, aparentemente outros organizadores estariam se preparando para o retorno, ainda que com as arquibancadas vazias.
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Antecipando-se ao movimento de um possível início no segundo semestre, a CBA soltou um plano estratégico de retorno às atividades automobilísticas no Brasil. Waldner Bernardo, o Dadai, falou para esta minha coluna na Racing sobre como está o mercado de competições nacional. Veja as respostas:
Estamos iniciando junho, após três meses da Covid-19 no Brasil. Qual o impacto das paralisações das provas para o automobilismo brasileiro?
Dadai – Ainda é prematuro fazer uma avaliação precisa, pois não conseguimos ter certeza do momento exato em que cada categoria terá condições de voltar às atividades. Sabemos, de antemão, que as consequências serão graves, como, por exemplo, a perda de patrocinadores. Mas, saber ao certo, ainda requer aguardar o fim do período.
Já existe um cálculo do prejuízo causado por essas medidas?
Dadai – O prejuízo, na verdade, é causado pela paralisação. O cálculo, como dito anteriormente, não é possível ser mensurado.
A CBA acaba de criar um protocolo de procedimentos para uma retomada segura das atividades de corridas. Com isso, os campeonatos devem iniciar, finalmente?
Dadai – Como o próprio protocolo diz, tal decisão é exclusiva do poder público. Não é uma decisão que está nas nossas mãos. Nosso objetivo, com a criação do Plano Estratégico de Retomada das Atividades do Automobilismo (clique para ver) foi criar meios para que promotores, equipes, pilotos e demais profissionais possam estar prontos quando esse retorno for anunciado.
Como ficaria esse retorno com relação ao público? A tendência será de correr, mas com arquibancadas vazias?
Dadai – Todas essas decisões são prerrogativas do poder público. Contudo, pela forma como tudo vem acontecendo, é possível se imaginar que esse retorno deverá ocorrer, em um primeiro momento, com portões fechados.
Na sua opinião, qual o legado da Covid-19? Aprendemos algo com essa pandemia?
Dadai – Acredito que o grande legado foi podermos observar o quanto nossa preparação é precária para situações dessa envergadura. E não digo só no Brasil. A indecisão e a falta de um plano consistente para mitigar os danos foi um retrato mundial, com raríssimas exceções.
Seria um bom momento para rever certos procedimentos, para mudar paradigmas?
Dadai – Não acredito em grandes mudanças estruturais na sociedade como um todo. Talvez teremos uma alteração em hábitos de higiene, de cuidados, mas nada que signifique uma mudança radical de comportamento global.
Poderia acontecer de termos campeonatos nacionais mais concentrados, este ano, com provas limitadas a alguns estados ou a determinados circuitos?
Dadai – É perfeitamente possível. O que vai ditar, nesse momento inicial, as questões de calendário e locais será a evolução dos estados em termos de contaminação. A própria Fórmula 1 é um exemplo, pois teve a necessidade de alterar ordem e data de provas para se adaptar ao estagio de evolução do vírus nos países determinados a receber as corridas.
Isso seria uma maneira de reduzir custos e facilitar a vida de pilotos e equipes?
Dadai – Inevitavelmente teremos redução de custos, até mesmo por consequência da perda de patrocinadores. Evidente que isso não será possível acontecer em todos os setores, pois existe um piso de custo que não permite enxugamento maior, mas acredito que esse movimento ocorrerá em alguma proporção.
Quais são as categorias mais afetadas por essa crise? Há o risco de alguma sair de cena definitivamente?
Dadai – Só saberemos precisamente no momento da volta. Tomando como base o que acontece lá fora, há uma tendência de que os prejuízos sejam maiores nas categorias que requerem mais investimentos. Mas não é possível cravar de forma absoluta que esse será o cenário definitivo.
Como tem se comportado o automobilismo regional? O público tem evitado ir às provas ou a vida segue normalmente, em determinadas regiões?
Dadai – Da mesma forma que no nacional, o regional ainda não teve a condição de efetuar o seu retorno. É fato que ele vai acontecer primeiro em alguns estados em detrimento de outros. Não tivemos até o momento nenhuma informação de que houve algum retorno de alguma prova oficial, apesar do fato de que isso compete exclusivamente às federações estaduais. Havia um plano de retomada do kart em São Paulo, o que acabou sendo adiado. Acredito que, quando acontecer, será sem público.
No início do próximo ano será época de eleição na CBA. Isso deve realmente acontecer ou há ideia de ser adiada?
Dadai – Não acredito que haverá alteração nesse sentido. Em que pese que isso seja uma decisão que cabe aos filiados, eu não vejo razões para qualquer mudança.
Como os patrocinadores, em geral, tem encarado essa crise? Há cancelamento de contratos ou a tendência é a de postergação?
Dadai – Não tenho condições e nem me sinto no direito de falar por cada promotor de cada categoria. É fato que o risco existe e que até já pode ter acontecido. Esperamos que todos consigam manter o máximo de apoiadores e possam suportar eventuais perdas.
Plano Estratégico
Na Consideração Final do Plano Estratégico, lançado dias atrás, a CBA estava otimista com o retorno. Veja: “A CBA e toda a comunidade do automobilismo estão unidas para a retomada das atividades, adotando todas as medidas para a prevenção, cabendo a cada indivíduo apoiar e dar continuidade a essas ações com a mesma intensidade, para que juntos esse objetivo seja alcançado em sua plenitude. Somos Competidores, mas, nesta corrida, devemos ser uma EQUIPE ÚNICA – Entidade Desportiva, Organizadores, Promotores, Pilotos, Mecânicos, Chefes de Equipe, Oficiais de Competição – respeitando todas as recomendações, para que todos saiamos VENCEDORES!”.
Pelo que pude entender, cada promotor de cada categoria irá tomar as suas decisões, respeitando inclusive as determinações de cada prefeito, de cada governador. Por isso, nas próximas semanas, falarei aqui na minha coluna com os dirigentes das principais modalidades, trazendo informações atualizadas sobre o retorno do automobilismo do Brasil.
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