Card image
Notícias
Oito meses de espera para uma nova vida

3 Minutos de leitura

  • Publicado: 08/06/2017
  • Atualizado: 27/03/2019 às 9:38
  • Por: Racing

<p><img alt="Vitte tem quase 20 anos de carreira e atua no Mercedes-Benz Challenge. (Foto: Fábio Davini)" height="467" src="/wp-content/uploads/uploads/fabiodavini-13468_620x467.jpg" style="margin:0 auto; display:block;" width="620" /></p>

<p>Quando me convidaram para escrever uma coluna sobre automobilismo e sobre minha participação no Mercedes-Benz Challenge, logo me veio à memória a história de como comecei minha carreira nas pistas.</p>

<p>Sou nascido e criado em Santa Gertrudes, uma cidade de 15 mil habitantes no interior de São Paulo. E durante toda a vida fui um apaixonado por corridas. Por falta de condições financeiras, não tive oportunidade de competir antes dos 36 anos, mas nunca desisti deste sonho.</p>

<p>Ter paciência e esperar pelo momento de acelerar é uma sensação que fui obrigado a sentir em diversos pontos da minha longa carreira, mas o momento mais angustiante foi mesmo o que antecedeu minha estreia.</p>

<p>Tudo começou na reinauguração do kartódromo de Ribeirão Preto, quando o amigo de um amigo me fez o convite que mudaria minha vida. Um grupo de pilotos estava conversando sobre uma categoria de turismo que era disputada em Interlagos, e falei a eles que meu sonho era, justamente, conhecer essa pista.</p>

<p>Um dos pilotos, chamado Mauro Espírito Santo, não demorou a me convidar. Disse que o chefe de sua equipe iria me ligar para que eu fizesse um treino no carro dele, em Interlagos, e voltei para casa quase sem acreditar. Contei para 100% das pessoas que conhecia na minha cidade que iria pilotar em uma pista de corridas de verdade. O pessoal ficou feliz, mas como esse dia demorou muito a chegar, comecei a virar chacota na região.</p>

<p>Foram oito meses de espera e de ansiedade até que o Bolívar, tradicional preparador de São Paulo, me ligou em nome do Mauro Espírito Santo. Neste meio tempo, sempre que encontrava um amigo ou parente, ouvia a mesma frase: “Você não ia pilotar em Interlagos?”. Aguentei brincadeiras como esta por quase um ano, até que finalmente chegasse o dia.<br />
 <br />
Fui até São Paulo para fazer um treino livre, sem compromisso, mas fui tão bem que o Bolívar me convidou para correr no fim de semana. O treino oficial de sábado (antes da classificação) foi na chuva. E mesmo tendo acabado de estrear, consegui o segundo melhor tempo, atrás somente do André Bragantini – um monstro sagrado do regional na época.<br />
 <br />
Ninguém acreditava que aquela era a minha estreia, e aquele ano foi muito especial. Ganhei algumas provas pela Categoria B, fui considerado o Piloto Revelação do torneio, e liderei o campeonato. Mas, quando venci uma corrida na geral, me fizeram subir de categoria na metade da temporada. Esse é o tipo de upgrade que nenhum piloto quer receber, e o título daquele ano acabou escapando das minhas mãos por isso. Mais uma vez, tive que conviver com a espera e ter paciência para chegar a meu objetivo.<br />
 <br />
Acabei sendo campeão no ano seguinte, e do regional de São Paulo passei a torneios nacionais, sendo campeão brasileiro em 2009. E nunca mais parei. Tive um sério acidente alguns anos atrás, fiquei hospitalizado vários meses, e mais uma vez precisei ter calma e tranquilidade: a vontade de voltar a correr estava presente todos os dias da minha recuperação, mas era preciso aguardar a hora certa.<br />
 <br />
Hoje tenho quase 20 anos de carreira e a certeza de que o automobilismo faz parte da minha vida, e que a persistência é o grande caminho para conseguirmos qualquer coisa neste mundo.<br />
 <br />
Sou uma prova viva de que não importa de onde você venha, qual seja a sua classe social ou sua condição financeira. É possível realizar seus sonhos, sempre. Mesmo que ele seja tão grande e aparentemente distante, como um rapaz simples do interior se tornar piloto de automobilismo.<br />
 <br />
<strong>José Vitte</strong><br />
Piloto de Santa Gertrudes, começou a competir em torneios regionais de São Paulo em meados dos anos 1990. Foi Campeão Paulista de Marcas de Pilotos em 2002 e Campeão Brasileiro da Copa Renault Clio em 2009. Atualmente, defende a equipe WCR na categoria CLA AMG Cup.</p>

Deixe seu Comentário

Comentários