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João, o honesto

2 Minutos de leitura

  • Publicado: 16/04/2018
  • Atualizado: 27/03/2019 às 9:38
  • Por: Leonardo Marson

João é um sujeito puro. Torce para um desses alvinegros da vida, assiste ao jornal na TV onde também vê os jogos do seu time e os documentários sobre animais. Adora ler e seus livros preferidos são “Relatos de um Náufrago”, de Gabriel Garcia Marquez e “Enterrem Meu Coração na Curva do Rio, de Dee Brown. Por coincidência, sua mulher é a Joana, professora de cursinho, outra grande figura. São dois seus filhos, Mariana e Pedro, gêmeos. O casal mora em um apartamento de três quartos num bairro de classe média e tem um carro também de classe média. De dois anos atrás, impecável. Único dono.

Redator em uma agência de publicidade, João é dono de uma grande criatividade, sempre atento aos movimentos do Mundo. E talvez esta sua criatividade tenha sido a causa de seu maior dissabor.

Certa manhã no caminho da agência, se deparou com algo ainda novo para ele. Parado no sinal (semáforo/farol/sinaleira) foi abordado por dois meliantes armados que lhe pediram para entregar tudo. Todos nós sabemos como é isso.

O grande culpado. (Foto: divulgação)

João olhou para os bandidos e falou: poxa, por que vocês vieram pra cima de mim e não pegaram o cara da Mercedes (Mercedes-Benz). Ele deve ter grana de verdade. E lá se foram os caras pegar o motorista da “Merça”. Ao saírem correndo fizeram sinal de positivo pro João. O sinal abriu e João foi embora, tremendo mas aliviado por não ter perdido o celular novinho que ganhara de Joana no seu aniversário, na semana anterior.

Quase um mês depois, a cena se repetiu, como ela sempre se repete em centenas de cruzamentos da cidade de São Paulo. Os manos apresentaram seus “documentos” e gritaram: entrega tudo.

E João, de novo, apontou uma BMW que estava três carros na frente. Os bandidos assaltaram o motorista que tentou reagir e levou uns tapas, o que deixou João pesaroso, mas aliviado por não ter sido ele, que havia recebido naquele dia um novo cartão de crédito corporativo.

Estas cenas se repetiram algumas vezes mais e o João apontando motoristas de Audi, Fusion e Lexus. Todos modelos top.

Um dia…

Um dia, naquele mesmo sinal, ele vê, pelo retrovisor, dois homens se aproximando e já procura um carro top na vizinhança. Nem deu tempo um de cada lado do carro, com arma na mão direita e um crachá de Polícia na outra lhe deram voz de prisão.

João quase morreu de susto. Um policial entrou na frente, o outro sentou no banco traseiro e mandaram seguir para a delegacia. No pátio, João percebeu uns dois ou três carros de luxo e pensou com seus botões, que como devem faturar bem os caras dali.

Quando desceu do carro foi algemado e viu saírem da delegacia três sujeitos muito bem arrumados que apontaram para o carro do João e garantiram que aquele era o carro do chefe da quadrilha que assaltava ali perto do parque do Ibirapuera.

– Os bandidos iam até aquele carro e depois vinham assaltar a gente. Disseram em coro.

E assim, de repente, João, o honesto, virou chefe de quadrilha.

Foi difícil convencer polícia e vítimas.

Agora João vai a pé pra agência, distante 6 km da sua casa.

E nunca mais viu os bandidos.

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